A lua cheia me pegou de jeito. Aconteceu tudo tão rápido que nem lembro quando cheguei ou quantos dias se passaram nessa cidade que não me deixa parar. Só sei que após um longo dia de viagem dirigindo a Sant’ana desde Buenos Aires até aqui não “pude” nem descansar. Por sorte rolou uma comidinha caseira abençoada antes de cair na minha primeira milonga. Das tantas vezes que já passei por Buenos Aires, só agora e aqui. É até engraçado.
Daí veio uma sequência de eventos de dança como aulas,
laboratórios, atividades da Mariana que junta a escrita com a dança de uma
maneira muito especial e as JAMs e é claro, as espontâneas que acontecem no
parque, na esquina, na cozinha...Ah, e os tambores: candombe pelas ruas da cidade. Achei estranho
que era o único homem dançando. Os que não estavam tocando tambores só olhavam
acompanhando pela calçada.
E foi numa dessas noites que não dormi. Bom, fui dormir as 9
da manhã, depois do café da manhã: pizza caseira. Mal sabia eu que, sendo a
terceira refeição seguida, era só o começo de minha dieta pizzaica daqui. As vezes ate consigo variar comendo um macarrão.
A salvação foi ter encontrado um boteco de comida armênia pra mergulhar em
outro vicio, digo, outro assunto de investigação profunda: Falafel. Esse foi
nota 6,7. Como comentei com meu camarada equatoriano, até hoje só comi falafel nota
10 em dois locais, um no norte de Tel Aviv e outro em Montañita, no próprio
Equador.
Tá bom, eu admito que comi umas coisas vivas e saudáveis entre
umas e outras. Principalmente na oficina de alimentação viva e consciente que
dei aqui na quinta-feira.
Com tanto movimento interno e externo e a tal noite sem
dormir e ainda uma abertura de registros akáshicos que me virou do avesso, sabado
a noite tivemos uma JAM daquelas. Tive duas continuas e prolongadas danças
estupendas. A primeira delas foi, para mim, o fechamento de uma profunda
pesquisa que se iniciou algumas semanas antes no 7º. encontro de contato improvisação nas
serras de Córdoba: Minhas danças com
Deva.
Perto do final da Jam, sentado entre um casal muito querido,
ela me convida a dar uma aula de contato juntos. Tudo bem que essa historia de
dar aula de contato é algo que me move bastante e há tempos, principalmente quando estou em
locais onde não há essa dança. Mas eu não entendi porque comecei a chorar. Tratei
de segurar. Sem chance. A emoção bateu forte e eu desmanchei em lagrimas e sensações.
Nerea me abraçou e juntos caímos na gargalhada.
Falei pra ela que era possível que isso se repetisse durante
a aula. Ela me respondeu que o choro é muito benvindo. Acabou que não chorei
durante a aula, mas no mínimo três pessoas choramos no circulo final.
Minha mente, meu racional diz que toda essa historia ao
redor de dar uma aula de contato não é nada demais. ‘Que besteira’ diz. Mas em meu Ser eu sei, eu sinto. É muito
forte. É profundo. E vem muito mais por aí.
Hoje foi feriado de 1º. De maio. O país para! Tudo fecha.
Poucas pessoas nas ruas ou mesmo nos parques. O costume é ficar em casa fazendo
‘asado’ em família. Nos juntamos no parque
rodô pra dançar. A principio éramos poucos e não prometia muito. Daí foi
chegando mais um e mais um e mais outros e então éramos muitos. Que festa, que danças,
que dia!!!
A noite era para ter candombe, mas começou a chover. Pela historia
do dia do trabalho foi até difícil achar algo para comer. Por sorte conseguimos
um lugar para seguir com a dieta base: pizza, mussarela e fainá.
Acho que isso pede uma explicação né? Aqui a pizza é quase
igual ao que chamamos de pizza no resto do mundo, só que sem queijo. Ou seja, é
só a massa e molho de tomate. E não é que é gostoso!?! O que chamam de mussarela
é o que por aí conhecemos como pizza :massa, molho e queijo (não preciso dizer
qual, né?). Até tem umas opções de extras mas o normal é esse. E a tal fainá
que é um prato típico italiano mas que nunca vi pelo Brasil. É muito popular na
Argentina e Uruguai.
‘Barriguita llena, corazon contento’. E não é que a chuva
parou e o candombe mais tradicional rolou!?! Aqueles ritmos quebrados que
ressoam até o cerne do ser não queriam me deixar ir descansar. Segui com eles dançando
e pulando por alguns quarteirões ate que o corpo disse: agora basta! E escapei
de fininho.
Ainda estarei cinco dias à mercê desta cidade e com muitas
coisas já planejadas. Imagina as surpresas que me aguardam. Pra quem achou que
só estava de passagem...
Gratidão Montevidéu e Montevideenses!