Na segunda-feira, 22 de outubro, de repente me dei conta de
que meu aniversário estava muito próximo. Senti uma crescente vontade de
celebrar, ter os amigos por perto. Tenho tantos amigos, de tantas aventuras,
jeitos, sabores, tantas histórias, tanto amor. Muitos deles espalhados por esse
mundo pelo qual tanto caminhei. Muitos também aqui mesmo nesta cidade para onde
voltei. Só que essa relativa proximidade física de estar na mesma cidade não necessariamente
reflete no sentir, no ver e viver cada dia. Os caminhos, as escolhas e os
afazeres de cada um cria um ritmo próprio no qual, se um não está inserido,
fica difícil entrar. Viagem minha? Sim, com certeza! Só minha?
Nesse mesmo dia, com essa mesma vontade tomando conta de mim
causando inclusive certa euforia, com mistura de tristeza e alegria, e com um
quê de provocação, postei no facebook: meu niver, que fazer?
Uma ou outra sugestão, uma ou outra confusão, pensando que
meu aniversário era naquele mesmo dia e de repente veio de volta, da amiga Fernanda- outra
provocação: “Tom, há um projeto que incentiva as
pessoas a usarem esse dia de aniversário com um novo olhar. Não apenas aquele
olhar um tanto quanto egoísta de que hoje é o MEU dia, e eu devo receber. E sim
hoje é um dia em que eu posso dar, posso retribuir ao mundo, aos meus pais, um
pouco desse tanto que venho ganhando...”
Entendi a proposta e me
identifiquei com ela, mesmo porque é parte de minha vida, não especificamente
no meu aniversário, mas no meu dia-a-dia de um modeo geral. Entrei no site do
projeto para dar uma espiada e vi algumas sugestões de como celebrar o próprio
aniversário com algum tipo de serviço.
Entre idéias que são realmente
parte de meu cotidiano, idéias interessantes que ainda não tinha posto em prática e outras que
não me atraíram, encontrei uma específica que me chamou muito a atenção: Converse com um morador de rua,
pergunte-lhe o que precisa / compre um café ou um
pouco de comida.
O
fato é que, sem quaisquer pretensões de, como diz a entrada do site “salvar o
mundo”, no meu aniversário do ano anterior havia feito exatamente isto. Passei
por um semáforo onde um homem com pernas atrofiadas pedia esmolas e me deu
vontade de comprar-lhe uma bela refeição. Fui a uma padaria chique ali perto
que tinha um bufê e fiz uma marmita pra ele. Bati um papinho rápido e segui meu
caminho.
Não
é algo que eu fiz com frequencia em minha vida, apesar de ter um chamado para
isso. Me intriga muito as pessoas nas ruas, nos semáforos, nas calçadas, nas
praças. Mas por algo não costumo me aproximar delas e estabelecer quaisquer tipo
de relação. Em geral só um rápido olho no olho.
Então,
naquela segunda-feira, 22 de outubro de 2012 eu pensei que poderia fazer algum
tipo de atividade que pudesse ser considerado serviço ao próximo em cada dia
desta semana do meu aniversário, que seria na quinta-feira, 25.
Segunda
e terça-feira passaram e eu nao fiz nada disso. Seegui nos meus afazeres
diarios com aquela ideia presente mas nem tanto. Até que chegou a quarta-feira,
24. Manika, minha astróloga tinha me comentado que este ano meu aniversário
seria efetivamente no dia 24 e não 25. Não falei isso para ninguém e comigo
mesmo pensei fazer algo especial, talvez sair da cidade, ficar na natureza,
meditar, nadar, e só estar. Mas naquela
manhã nao tive vontade de fazer isso. E logo me vieram ideias do que eu poderia
fazer neste dia. Seria um dia de serviço. Sem muitas expectativas, sem muito
planejamento, sem nada grandioso. Pequenas ações, no fluxo do dia.
Como
já disse Lao-Tsé, ‘uma jornada de mil léguas começa com um único passo’. Meu primeiro passo era doar sangue. Algo que
fiz somente uma vez na vida ha mais de dez anos. Algo que ja estava proposto a
fazer há alguns meses para fazer uma reposição para o pai de uma amiga. Até
cheguei a ir no hospital uns 2 meses atrás, mas por conta de uma diarréia nao
pude doar na ocasião.
Hoje
estava decidido, nada me impediria. Saí de casa somente as 12h30. As 14h37
seria o momento específico do meu aniversário, astrologicamente falando. Fiz um
rapido planejamento para pensar em possiveis locais para vivenciar a hora H num
local agradável e propício para uma internalização, uma meditação. Talvez no
parque Ibirapuera, talvez em um mosteiro budista na Liberdade, talvez alguma
igreja. Pensei e soltei para o Universo. Eu nao pretendia controlar nada.
A
caminho do hospital, parado num semáforo, vi um homem se aproximando em sua
cadeira de rodas vendendo balinhas e chicletes. Logo lembrei dos exemplares do livro que publiquei que havia colocado
no carro de ultima hora para presentear algumas pessoas aleatoriamente nesse
dia. Quando ele chegou a minha janela rapidamente me estiquei para pegar um exemplar
do banco de tras e lhe perguntei: voce gosta de ler? O ‘sim’ dele foi mais
natural e convincente do que eu poderia esperar. Lhe entreguei o livro e ele
ficou muito interessado. Apreciou muito a capa, como já é costume e antes mesmo de abrir, fez
varias perguntas. Ficamos ali batendo um papinho graças aquele semáforo
demorado.
É
impressionante o quanto algumas poucas palavras e olhares podem nos aproximar
um ao outro, o quanto podem nos lembrar que somos todos humanos, todos iguais.
Eu no meu santana com meus livros e ele em sua cadeira de rodas com suas balas.
O sinal abriu, apertamos as maos e nos despedimos com um olho no olho ainda
mais profundo. Antes de partir ele ainda me deu uma de suas balinhas.
Chegando
no hospital, observando sua entrada majestosa me questionei sobre estar indo
doar sangue ali ao inves de fazê-lo num órgão público. Claro, estava ali para
doar em nome do pai de uma amiga, mas ja fazia tanto tempo que imaginei que
talvez nao se aplicasse mais. Entrei no banco de sangue e entreguei minha
identidade. A recepcionista me informou que a espera seria de aproximadamente 1
hora.
Já
era tarde e eu queria fazer algumas coisas ainda neste dia. Além disso, 14h37
estava se aproximando, e eu tinha planos de estar em algum lugar calmo, comigo
mesmo, nesse horario. Falei que voltava outro dia, e parti em busca do hospital
publico que imaginava ficar ali pertinho. Lá nao tinha fila de espera grande,
mas o processo todo leva um tempo, desde o cadastro até a extração do sangue em
si.
Quando
me dei conta ja eram 14h40. Sentado na cadeira de doação eu fechei os olhos e
meditei um pouco. Logo uma enfermeira me chamou: voce esta se sentindo bem? Eu
sorri: Sim, estou bem! Segui minha meditacao com olhos abertos.
Antes
de sair lhe entreguei um de meus livros. Ela tambem puxou um papo. Agradeceu e
fomos cada um para um lado.
Como
a hora H ja tinha passado e a tarde estava avancando rápido decidi que minha
próxima missão era ajudar amigos a fazer um minhocário em sua casa. Eu ja tinha
comprado as caixas pensando em talvez fazer um minhocário para vender ou mesmo
fazer uma troca com eles. Entao hoje antes de sair de casa coloquei as caixas
no carro. Liguei para confirmar se tinham furadeira e fui até lá.
Não
tinham a broca certa. Saimos para comprar. Fizemos os furos nas bases das duas
caixas superiores e o encaixe para a torneira na caixa inferior. Pronto! Só
faltam as minhocas. Yanina e Bruno ficaram muito felizes e um tanto surpresos
com minha aparição e o feitio do minhocário assim de repente. Eu também.
Próxima
parada:casa do amigo Claudio Belli. Há mais ou menos um mês fomos juntos à Teodoro Sampaio comprar
cada um o seu violão. Desde então havia a idéia de eu lhe passar um pouco do
que eu sei, ensinar algumas musicas, fazer um som juntos. A hora é agora.
Virou uma confraternização entre amigos que deu em pizza. Mas nao acabou por
aí: fizemos um som juntos e assim fechei meu dia 24 de outubro de 2012.
Feliz
Aniversário.
2 comentários:
o site: http://bearth-day.org/
broca, minhoca, balinhas e livros. Trocas. Um punhado de bons amigos, livros e gentileza, lindo!
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