quarta-feira, 18 de abril de 2012

Uma Lembrança do Tao


...entende que o Universo está para sempre fora de controle, e o tentar dominar eventos, vai contra a corrente do Tao.
                                                                                                         Byron Katie

Esses dias tem sido um tanto estranhos, como num lapso fora do tempo. Um passo passou e o outro ainda não chegou. A vontade é de fazer planos e agir, mas tudo indica que é hora de silenciar e esperar um pouco, até que a vida apresente o próximo passo.  Digo a mim mesmo que se estivesse numa praia ou qualquer lugar na natureza ou mais propício para relaxar, seria mais fácil me entregar. Será? Bem, aqui estou, em uma das maiores cidades do mundo,  praticando meu sadhana diario: meditando, orando, cantando e alongando e a cabeça cheia de informação.  Ah sim, e ficando horas no computador.

Também trato de resolver pequenas coisas mundanas: bancos, mecanicos de automovel e bicicleta, lojas. Os afazeres não fluem. Fico irritado. Me observo. Me acalmo. Sinto falta de presença e atenção. Erro os caminhos repetidas vezes. Volto ao mesmo lugar para fazer o que faltou.  A gota d’água é quando quase passo num sinal vermelho sem nem perceber. Não tinha acabado de mudar, estava vermelho mesmo. Mas as coisas continuam.
Graças aos audios de Byron Katie com os quais estou me deliciando, tenho estado bem presente na consciência do Tao. Parece contraditório? Pois é. O bom é que observo todas essas coisas acontecendo e sorrio, mesmo quando irritado.

Noite passada, assistindo um pedaço de um filme bobinho me emociono e desabo em lágrimas e soluços. Nesse mesmo instante o telefone toca. Não tem sentido atender, não vou conseguir falar. Vejo quem é: Julia. Atendo. Ela fica supresa com meus prantos. Converamos brevemente e desligo para seguir degustando daquele momento. A cabeça traz mil pensamentos e questionamentos, mas a sensação é até agradável, aliviante.

Vendo uma postagem da Noa no Facebook me dou conta que hoje é meu cumplekin, meu aniversário do calendário Maia. Sol Cristal Amarelo. 
Dedico-me com o fim de iluminar
Universalizando a vida
Selo a matriz do fogo universal
Com o tom cristal da cooperação
Eu sou guiado pelo poder do livre-arbítrio
"Como guardião da luz, trago para minha vida o poder curador do amor incondicional."
Então aquilo tudo ontem foi meu “Inferno astral” Maia?

 Após deixar o carro na mecânica pela terceira vez consecutiva pelo mesmo problema, paro no parque debaixo dos bambuzais. Gosto muito desse local. Olho em volta, muito lixo no chão. Bitucas de cigarro, papel de bala, tampinhas de refrigerante, cacos de vidro e um saco plástico. Pego o saco e vou coletando os lixinhos. Não tenho muito costume de fazer isto. Volta e meia coleto algumas coisas, principalmente em trilhas. Aqui o faço tão naturalmente que parece uma atividade do dia-a-dia. E faço com alegria. 

A cada elemento recolhido e depositado no saco imagino, como num flash, a pessoa que o deixou ali. Sorrio com um sentimento de ternura por esse ser. Me sinto melhor ainda por nao fazer nenhum julgamento a respeito do lixo. Apenas recolho porque quero o local limpo. Ao terminar me deito num dos tres bancos de cimento debaixo de um dos bambuzais e ali fico, entregue ao presente. Observo pensamentos, admiro o visual e fico inerte por algum tempo, sentindo imensa gratidão.

Quando vem a vontade de me mover, primeiro me sento no banco. Observo o meu redor. Olho para os bambus. Gosto muito deles. Vejo um naturalmente torto, com um formato de arco. Me agrada. Penso que poderia cortá-lo bem ali para levar de lembrança e fazer algo com este pedaço. Sem tempo para pensar me pergunto: por quê? E como se isto nem tivesse acontecido, continuo olhando em volta. 

No chão de terra batida, bem perto de meu pé esquerdo vejo mais um pedaço de vidro e antes mesmo de recolher, me chama a atenção o seu formato. Um coração. Quais são as chances de um caco de vidro ter um formato de coração?