quarta-feira, 8 de junho de 2011

Viajando por Moçambique





O albergue Fatima’s é realmente um bom lugar para encontros e reencontros. É um dos principais pontos de parada dos mochileiros que passam por Maputo. Como se não bastassem todos os encontros e reencontros que já havia experenciado ali, de repente me aparece um camarada inglês que eu conhecera na Cidade do Cabo. James está agora viajando com um amigo alemão, numa kombi que batizaram de Susie. Dentro tem armários e uma cama que ocupa toda a parte de trás. Vão subir pela costa de Moçambique e depois cruzar para Malaui. Como gosto de conexões, já conecto isto aos planos de viajar Moçambique acima com Katrin, e pergunto pela possibilidade de carona. Eles topam.
Após uma longa e deliciosa viagem na Susie, com James e Chris, chegamos até a praia de Tofo, na província de Inhambane. Para economizar nosso dinheiro, eu e Katrin dormimos ao relento, sob pinheiros à beira mar, sentindo o vento forte que vem da praia ao lado, Tofinho. Domingo é um dia e tanto. Lavamos as almas nas ondas mornas do oceano índico, e depois vamos ao mercadinho local comprar coisas para o café da manhã. Não há muita variedade, mas o que tem é de qualidade. Nossa refeição: pãezinhos com abacate e banana e pão de coco. Aliás, o pão de cada dia em Moçambique é uma benção. Vendido nas ruas por mulheres com bacias cheias deles na cabeça, está sempre fresquinho, é crocante por fora e macio por dentro – lembra um pouco a ciabata, e é muito barato. Depois do café vamos até o vilarejo isolado que fica atrás da praia, em busca de água de coco. Muito bem acolhidos pelos residentes, dizemos que estamos em busca de coco verde. Um jovem trepa num dos coqueiros que há entre as casas e colhe dois. Tomamos a água, ganhamos castanhas de cajú recém torradas e experimentamos “soura”, também chamado de vinho de coco. É um líquido extraído da base da folha do coqueiro que fermenta sozinho. Quanto mais tempo se deixa descansar, mais forte fica.
Decidimos seguir viagem, mais para o norte. James e Cris ainda querem ficar uns dias. Na segunda de manhã, com nossas mochilas nas costas, saímos andando, pedindo carona. Conseguimos uma até a cidade de Inhambane. Para seguir para o norte, temos que cruzar o canal, de barco, até Maxixe ou dar uma grande volta pelo sul. Decidimos ir com os barcos de madeira e velas de pano. Entramos num que já está cheio e ainda ficamos esperando mais um bom tempo até que fique abarrotado. Isso é comum em qualquer transporte público pelos lugares da África em que já passei: o transporte não sai enquanto não está completamente lotado.
Em Maxixe caminhamos ao longo da estrada, para o norte, com a intenção de nos afastarmos da cidade e pegar carona. Mas a cidade não acaba. Caminhamos por um bom tempo com as mochilas pesadas. Paramos à sombra numa parada de chapas. Após longa espera conseguimos uma carona que não nos leva muito longe, mas ficamos bem felizes simplesmente por estarmos novamente em movimento. Nos deixa à beira da estrada, num local onde só há mulheres vendendo tangerinas e bananas. Nem cinco minutos de espera e chega a carona que nos leva até Vilankulos, nosso próximo ponto de parada. Ainda em Maputo, eu havia perguntado a Sean, o cara com quem Cláudio estava viajando, se poderíamos ficar em sua terra, em Vilankulo. Ele concordou, com a condição que eu fizesse um banheiro seco. Seria simplesmente cavar um buraco gigante e tapar com pedaços de madeira. Topei.
Chegando lá, procuramos pelo hotel de seu padrasto para saber onde fica o terreno. Ele nos mostra o terreno e também onde podemos pegar água numa escolinha ali ao lado. Também nos apresenta às vizinhas, que são as antigas donas do terreno de Sean. Fátima, Cândida, Anita, o menino Alberto e a menininha Olga. Cândida já se familiariza com Katrin,chamando-a de prima Catarina. O terreno de Sean é um pequeno pedaço de terra com solo arenoso, poucas árvores e duas pequenas cabanas de palha, uma retangular e outra quadrada. Ficamos na primeira, com teto de placa de metal. Montamos as camas com restos de palha que encontramos pelo terreno. Então andamos os quatro quilômetros até o centro da cidade para comprar comida: pão, banana, tangerina, tomates. E assim ficamos alguns dias.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

La excusa necesaria para lo esencial

lo que hago no es esencial
lo esencial es (lo unico) esencial

no hay que hacerlo, no hay como hacerlo. es!

lo que hago , hago por hacer algo.
no tengo que hacer nada;
solo hago algo por hacerlo.

hacer algo es una excusa,
porque no hay que hacerlo

lo hago por hacerlo y asi llegar
a la esencia

asi que hacer algo es una excusa
para llegar a lo que no se puede hacer:
lo esencial

(y solo haciendolo la alcanzo, pero no la es)

lo que hago es simplemente una excusa

La excusa necesaria para lo esencial.

Siendo lo que es, una excusa, no es lo esencial.

Pero asi como la sombra me muestra la presencia de la luz
La excusa me lleva a la esencia.

Sin sombra no percibo la luz
Sin excusa no llego a la esencia

La excusa no es lo esencial
La excusa es solamente esencial.

Lo que hago, que es solamente una excusa, se hace
por si misma esencial.

Lo que hago, hago por hacerlo y asi
llegar a lo que no se puede hacer: lo esencial

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Além

Me vem a imagem dos olhos de um cego, abertos, escancarados, espalhados. Não olham para nenhum lugar como se vissem tudo ao mesmo tempo. Talvez não vejam tudo, mas sei que vêem alem. Não ver proporciona ver além. É como o não fazer nada do tantra. Não faz sentido mas assim e porque assim o sinto.
Faz calor. Sirenes distantes preenchem o ar por breves instantes deixando-me atento ao Om, som da cidade, ao desaparecerem. São muitos Oms-sons formando um. Às vezes identifico um fusca. Um trator. Um gerador? Esses vão e vem. O Om não. Este é constante, onipresente. 
Uma brisa suave entra pela janela dando uma sensação de frescor em meu corpo transpirado. Meus bigodes e minhas costas sentem até um gelado. 
É bom estar, simplesmente estar. Ouço o toque chato e repetitivo de um celular. Não sei se está aí ou se e só dentro de minha cabeça, impregnado em minha mente de tantas vezes escutá-lo. Dou graças por não ter celular aqui e agora. Iemanjá demandou e a onda o penetrou.
Sentado aqui no chão do apartamento não sei o que fazer. Isso me dá graça e atá alegria de um jeito irônico. Quanto já sofri nesta vida por não saber o que fazer. Agora estou aqui, igual mas diferente. A mesma vista de outro ponto. 
Me emociona como as coisas acontecem por si só quando me permito fazer nada. quando me abstenho do esforço. 
Brinco com a janela que o vento fecha e eu abro repetidamente. Ela sorri. Mexo os dedos dos pés. Dobro, estico. Dobro, estico. Observo, sinto. Sem querer, me vejo em visão difusa. Olho para tudo e não vejo nada. Vejo além.

Focus

I Am focus
I Am focus in service
I Am focus in joyful service
I Am joyful focus in service
I Am focused sevice in joy
I Am joy
I Am
So it is

Lua Cheia

toy acostado en el piso liso de madera amarillo clara. la guitarra canta suave acompanhando a danca de las voces y los cuerpos. O ar eh agua, umido e fluido. os corpos transbordam vibrando no som. Em postura de feto eu respiro, descanso. Observo dentro e fora. Sinto o sabor das cores dos corpos e roupas dancantes e o cheiro da lua cantada. Lua Cheia. nao a vejo aqui de dentro do cubo. tao somente a penso, a sinto  e assim sou eu mesmo a lua redonda brilhando no alto do ceu. o centro e o todo. 
bexigas de aniversario me distraem. eh a estampa de um embrulho recheado. 
-eh seu aniversario?
-nao
abro o papel com certo cuidado, ainda assim o rasgo. eh gostoso rasgar papel de presente. disfruto esse momento com um sorriso pleno. espio dentro antes de tirar o que o preenche. como ja sentia, vejo mais de um volume. tiro o maior deles. um livro laranja escrito em letras negras. NEW YORK.  que sera? J Torres Garcia. Quem sera? Tiro um papel branco com letras tambem negras. uma borboleta voa. nao leio. mergulho de volta no embrulho. caderninho negro. caneta de tinta preta. abro o caderno e me ponho a escrever.