terça-feira, 28 de outubro de 2008

III Festival Experimental Eletrorgânico





Aconteceu no Município de Silva Jardim-RJ, de 10 a 12 de outubro de 2008, o III Festival Experimental Eletrorgânico; um evento de arte, cultura e ecologia para arrecadar fundos para a Escola da Mata Atlântica em Aldeia Velha - RJ.

"O Festival é uma iniciativa que procura abrir um espaço para apresentação de bandas independentes, grupos regionais, artes circenses e tantas outras manifestações tradicionais e modernas, num ambiente de diálogo e respeito com o Meio Ambiente".

Debaixo de um sol escaldante, com a abençoada presença central de um rio de águas cristalinas, o festival foi uma "mistureba" dos mais variados estilos musicais, além de oficinas, projeções de vídeos, performances, tenda das crianças, alimentação vegetariana e viva - com mandalas de frutas e suco de luz do sol todas as manhãs. Já as tardes e noites eram regadas à cerveja.

Deu para notar o esforço e dedicação das pessoas envolvidas na produção do evento nos detalhes como a compra de alimentos dos agricultores da região, a compostagem do lixo da cozinha, banheiros secos muito bem feitos, postos de reciclagem seletiva, bioconstrução, e, acima de tudo, doando seu serviço, como diz o ditado: "trabalho como amor em ação".

É claro que sempre estão presentes irmãs e irmãos que ainda não captaram a mensagem de que "o encontro é construído por todos que estão lá realizando esse sonho coletivo"; e nao colaboraram em aspectos como :separar o lixo reciclável, não jogar lixo no chão, não usar sabão no rio, manter limpos os banheiros secos e tantas outras "coisinhas" que fazem a diferença. Mas isso também faz parte; e é assim, tendo contato com eventos como este, que uns e outros vão despertando e fazendo essa força transmutadora cada vez maior.

Um dos momentos auges do evento foi o cortejo dos Flautins do Matuá com participação de Carlos Malta. Houveram lindas apresentações durante todo o evento, mas este momento específico foi quando o Eletrorgânico inteiro dançou a mesma dança. Como quem não quer nada, os Flautins se juntaram em frente à cozinha e começaram a tocar. Nesse mesmo instante já começaram a juntar os primeiros seguidores. Após uma breve pausa para agradecer aos cozinheiros que prepararam o alimento com tanto amor durante todo o evento, o cortejo seguiu para a tenda principal, levando consigo uma grande muvuca dançando, pulando e rodando. O palco ficou de lado. A festa se fez no meio da galera. Nesse momento Carlos Malta, muito à vontade, e seu pifo se juntaram à festa que foi longe. Antes de terminar, o cortejo ainda tomou conta do barranco e foi parar onde tudo começou; na cozinha.

Outra atração que não pode deixar de ser comentada foram os 'Fidjus de Cabo Verde', formada por cabo-verdianos residentes no Rio de Janeiro que, além de uma banda, formam um grupo sócio-cultural que tem como objetivo promover a cultura de Cabo Verde no Brasil. Também fizeram muita gente pular e, com muito bom humor, conseguiram lidar com os prolongados problemas técnicos de som que tiveram.

E por aí foi o festival com 48 horas de música e muito banho de rio cercado por uma natureza estonteante. E viva a Mata Atlântica.

domingo, 5 de outubro de 2008

Árvores, pássaros e nuvens


É domingo de eleições em São Paulo. O céu coberto por nuvens carregadas, cinzas e brancas. Já choveu. Talvez chova mais. Muitos pássaros cantam e voam para lá a para cá. É surpreendente; esta cidade, este câncer feito de cimento sobre cimento, rodeado de cimento tem tantas lindas e imponentes árvores. Se me perguntam o que eu mais gosto em São Paulo, digo que são as árvores. Parece meio contraditório, mas não é. Esta cidade que eu tanto odeio tem lindas e esplendorosas árvores. E com elas, vem a vida e vêm os pássaros. Tantos pássaros, tantos cantos. Ah, e os macaquinos, é claro. Hoje mesmo estava notando o chamado dos sagüis. Não os vi, mas ouvi. Como chamavam forte.

Bem, tenho a “vantagem” de estar perto de um clube hípico – não por ser hípico, mesmo porque eu sou a favor da libertação animal por completo, mas pela quantidade de verde que tem. É uma mini floresta que propicia hábitat para as tantas espécies de aves e os sagüis que vemos por aqui com freqüência.

Lá pelas 10h saio com minha mãe e tia para ir ao colégio aqui ao lado votar. Em seguida compramos pães e voltamos para tomar café da manhã com meu pai. Ele comenta sobre a extraordinária quantidade de gente caminhando nas ruas. Quem vota no colégio aqui perto, aproveita para quebrar um pouco o padrão, e vai à pé. Numa cidade como esta, só sai de casa sem carro, quem não tem. Hoje em dia até os cães são levados para passear por “passeadores de cães” contratados. Às vezes se vê um “passeador” com tantos cães levados pela guia que é surreal – aquela cachorrada se enroscando uma na outra. Aí o cara perde a paciência e da uns puxões que, se o cão for pequeno, rodopia no ar. Pra que que a gente tem cachorro mesmo?

Após o café, como de costume quando estou em São Paulo, vou direto para o computador. É meu vício, minha fuga da realidade quando estou aqui na babilônia e não sei o que fazer. Fico vendo emails, chateando (sentido ambíguo), organizando fotos, escrevendo – este é o caso agora – e por aí vai.

Então tava eu aqui chateando com uma amiga e ficando chateado de não ter/saber o que fazer. Lembrei de uma oração que um personagem fazia num filme que vi recentemente. Fiz uma busca na net com as palavras que lembrava e achei:
"Concedei-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar aquelas que posso e sabedoria para distinguir umas das outras".
Me caiu como uma luva neste momento de..tédio!?! Bem, até que estive lidando bem com isso tudo pela pratica no dia-a-dia do que aprendi no Vipassana. E trato de lembrar sempre que, o que quer que eu esteja vivendo a qualquer momento, “isto também passará”.

Não sei bem aonde quero chegar ao escrever tudo isto. Na verdade, não tenho pretensão de chegar a lugar algum. Só queria escrever, e aqui estou. Aqui cheguei e aqui fiquei. Os pássaros continuam voando e cantando. Os sagüis já não chamam mais. O céu está mais branco que cinza. Isso me lembra um cântico:

Vê formaram-se sobre todas as águas
Todas as nuvens.
Os ventos virão de todos os nortes.
Os dilúvios cairão sobre todos os mundos.
Tu não morrerás.
Não há nuvens que te escureçam.
Não há ventos que te desfaçam.
Não há águas que te afoguem.
Tu és a própria nuvem.
O próprio vento.
A própria chuva sem fim...

Cecília Meireles