quarta-feira, 18 de agosto de 2010

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Misseis e muita comida boa




No meio de tanto entulho e da bagunca da construção, há uma televisão largada, que eventualmente é movida de lugar para não atrapalhar. Não é ligada já há algumas semanas, desde o fim da copa mundial de futebol - razão pela qual foi trazida. 

Sou o cozinheiro de improvisação de um grupo que trabalha com bio-construção. Dormimos em barracas ao lado da obra. A cozinha é improvisada dentro e, como a tv,  muda de lugar quando necessário.


A cozinha de improvisação
Hoje estamos somente Nitzan, Kfir e eu. À noite, quando entro na cozinha, estão os dois assistindo o noticiário. Nitzan me diz: O Egito enviou misseis à Israel. E dá risada. Eu entendo como uma piada (que não entendi) e faço cara de interrogação. Ele confirma: É verdade, beduínos mandaram 2 misseis do Sinai, no norte do Egito, para a região de Eilat, sul de Israel. Por sorte de um e azar do outro, erraram o alvo. 

Isso tudo é muito surreal para mim. Acostumado a ouvir essas coisas pela mídia, mas normalmente estando a milhares de quilômetros de distância, agora estou aqui, no país onde aconteceu. Assim como no Brasil é comum ouvir sobre um assalto, um assassinato ou afins, aqui uma notícia dessas também já é algo que não parece nada muito fora do cotidiano.

Em diferentes partes do país por onde passei é comum ouvir tiros e explosões do exército em treinamento. Fiquei mais impressionado quando vi os tanques de guerra praticando no deserto, à beira da estrada. Me senti no meio de uma guerra, ou de um filme.

Em qualquer parte - cidades, ónibus, ruas, praças, carros, é muito comum ver jovens, geralmente com cara de adolescentes ainda, carregando imensas armas de fogo. Em Israel todos, homens e mulheres, são obrigados a prestar 3 anos de serviço militar. E em seus dias de folga, devem carregar suas armas por onde forem.


Próxima Quarta feira será meu ultimo dia de trabalho como cozinheiro do grupo aqui no Moshav. Feliz de sair dessa bagunça de construção. Vou sentir saudades das mangas. 

Moshav é uma comunidade rural israelense que praticava principalmente a agricultura. A maioria das pessoas aqui já se desligou da terra e usa seu terreno para construir grandes casas ou mansões. É comum ter plantações de frutíferas abandonadas. Em frente à casa onde estamos trabalhando há uma plantação de mangas com diversas espécies e estamos bem na estação. Um de meus maiores prazeres aqui é passar tempo ali, colhendo e me lambuzando com essas delícias. Quando se come uma boa manga fica provado que Deus existe.

Passo alguns dias curtindo Tel Aviv: praia, bicicleta, Jaffa, festa, cinema, e estou praticamente decidido a seguir rumo ao Egito muito em breve. Vou ao consulado pedir o visto e o senhor que me atende diz que é melhor fazê-lo em Eilat pois lá demora apenas uma hora e aqui 3 dias. Então começo a sentir algo que me diz para não ir pro Egito agora. 

Tenho algumas conversas com diferentes amigos que fazem aflorar naturalmente uma questão que sempre volta nesta minha vida meio nomádica: o que fazer neste momento? 
Sinto vontade de concentrar minha energia em algo mais construtivo e focado. Algum projeto talvez. Só não tenho a clareza do que. Tenho tantos ramos com os quais me envolvo: alimentação, escrita, fotografia, palestras, teatro, clown e tantas outras que fica difícil escolher.

Na sexta feira participo mais uma vez da ceia cerimonial de Kabbalah Shabbat com família de minha amiga Noa. É um evento para dar as boas vindas ao Shabbat, que é o Sábado, o sétimo dia. Deus criou o mundo em seis dias, no sétimo descansou. Este é um dia sagrado para o povo judeu, no qual não se trabalha. É dia de descansar e simplesmente ser, estar. 

Por mais que não entenda ainda muitas das coisas da cerimônia, é um momento muito especial, família reunida ao redor da mesa com alimentos preparados com muito amor e dedicação. Uma festa em nome de Deus.

O pão e o vinho são partilhados em um ritual. As orações são recitadas e cantadas e o alimento é servido. Após o jantar, Noa e eu partimos de carro para uma festa que está rolando no norte do país, a aproximadamente 2 horas de carro. Israel de cruza de um extremo ao outro em aproximadamente 7 horas. 

A festa começou ao pôr do sol, num kibutz onde moram muitos amigos dela. Agora são mais de 21h. Será que ainda pegamos algo?

Chegando após a meia noite já não temos muita esperança mas, para nossa alegria, encontramos ótima musica e linda energia com a galera dançando. Muitos já foram dormir, mas a festa continua animada.

Sábado vamos, no final de um dia muito quente, para um riacho nas proximidades. Essa é uma face de Israel que não havia visto ainda. Rios neste país não há muitos, estão mais presentes por aqui, no norte, que também é mais verde e montanhoso. 

Por aqui há diversas vilas árabes ou drusas que são famosas pela rica comida árabe. Paramos para comer em uma delas. É interessante notar que os alimentos tradicionais tão apreciados pelos israelitas: falafel, hommus, babaganush, pitta, etc, são tradicionalmente árabes. Além dos alimentos, outra coisa muito presente em israel são muitas palavras árabes, principalmente pelos mais jovens.

Nos deliciamos com hommus com pinhole, saladas, azeitonas e charutinhos de folha de uva. Depois vamos a Kadita, visitar nosso amigo Dror.

charmoso banheiro seco construído na janela
Kadita é como uma vilinha rural onde passaram a viver muitas pessoas que buscam uma vida mais harmônica com a natureza. Dror mora numa área onde um grupo vive mais conectado, fazendo reuniões e eventos comunitários. A eletricidade aqui é solar. O banheiro é seco e completa-se o ciclo: plantar-comer-defecar-plantar-comer-defecar...

Passo uns dias com a casa toda só pra mim na maior parte do dia. Bom estar nessa solitude nesse meu momento de transição. Sábado dou oficina de alimentação viva em Tel Aviv. Talvez tenha que organizar mais de uma porque tem muita gente interessada. Bem, um passo de cada vez. 

Agora estou aqui.