segunda-feira, 28 de setembro de 2009

África, uma viagem para o caminho interior




"Para ser grande, sê inteiro; nada teu exagera ou exclui."
Fernando Pessoa



Havendo conseguido uma carona de veleiro do Rio de Janeiro para a África do Sul, após 27 dias em alto mar, aportei na Cidade do Cabo com algum dinheiro no bolso e muita vontade de experienciar o que a vida tinha para me apresentar naquele momento.

Quinze meses e várias das experiências mais profundas de minha vida mais tarde, senti o chamado de voltar para o Brasil.

Com o que trouxe na bagagem (fotos, diários de viagem, lembranças), publiquei um livro independente. Desde então, venho fazendo “palestras”, nas quais faço projeções de fotos e compartilho histórias de viagem e reflexões de vida e valores, frutos dessas e outras andanças.



Ao sair da realidade que eu tinha por absoluta, a cada dia, a cada passo, me deparo com um novo universo, totalmente desconhecido: idéias, valores, culturas e tantos outros fatores que me levaram e continuam me levando a uma busca por uma vida com sentido ou, o sentido da vida. O que estou fazendo aqui?

Quais são os meus valores desde dentro, e como os coloco em prática, no dia-a-dia? O que é a vida? Qual o sentido da vida? Que atitudes tomo, em meu dia-a-dia, que refletem o que sinto e penso?

Esta minha ida à África iniciou um processo em minha vida, no qual comecei a direcionar minhas buscas cada vez mais para dentro, conectando com meu ser interior, em busca de valores a partir da essência. E essa busca interior foi abrindo portas para conexões com pessoas, valores, eventos e outros aspectos que ajudaram e continuam ajudando na conexão comigo mesmo e com o todo.



Compartilhemos idéias, experiências, conhecimento e momentos que possam nos ajudar em nossa caminhada, na busca e prática de uma vida mais harmoniosa com o todo (os que estão à nossa volta, a natureza, o planeta e nós mesmos - enfim, todos os Seres).

A proposta em si é uma semente germinando, e todos os presentes no evento, o solo fértil buscando dar as condições ideais para seu pleno desenvolvimento.

com amor e gratidão
Thomas

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

CARTA DA TERRA

Você conhece a CARTA DA TERRA? NÃO????

Este é um documento básico essencial para todo e qualquer um neste planeta nos dias de hoje. É um absurdo viver hoje em dia e nao conhecer esta CARTA. Claro que há exceções, como os seres que não tem acesso a estas informações, e é por isto mesmo que cada um de nós tem o dever de conhecer e difundir ao máximo a tal CARTA DA TERRA.

Tá bom, eu confesso: só hoje passei a conhecer a CARTA DA TERRA, e me pergunto como é possível não have-la conhecido antes.

Aos que ja conheciam, perdoem meu atraso. De qualquer maneira, o mais importante é encontrar maneiras de aplicá-la cada vez mais no dia-a-dia.

chega de lero-lero, aí vai a CARTA DA TERRA e alguns links diretamente relacionados:

CARTA DA TERRA (doc): www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/carta_terra.doc

CARTA DA TERRA (video): http://www.youtube.com/watch?v=GaWqa3ftQrs

GUIA DE AÇÃO: http://www.cartadaterrabrasil.org/prt/action_guide.html

Ah, aproveitem para divulgar!

com amor
Thomas

Acorda!

Desperta desse sono profundo

para de te sedar com a droga
do sistema

Larga esse papel de vítima

Levanta
e caminha para onde teu Coração te levar

Mergulha no Silêncio
e observa a perfeição da vida

Liberta a culpa
e dá espaço ao Amor

incondicional

Acorda! Você está aqui.

OS FILHOS DO MUNDO

recentemente resgatei este texto escrito por Julia, na época, aluna de jornalismo da Unidavi- Rio do Sul-SC. Decidi posta-lo aqui porque acredito que pode inspirar outros, assim como inspira a mim.


Abertura da apresentação

Eu queria ser um deles. Não precisava ser os dois, apenas um, mas com qualidade no plural como eles.
Gostaria de arrumar minha bagagem, com poucas roupas, mas com muita coragem e determinação...
Desejaria como as aves migratórias, viajar para onde a estação estiver chamando, pegar o mapa do mundo e dizer: É pra lá que eu vou!!!
Queria poder andar pelo vento, sentir a chuva, a poeira da estrada, o sol.
Gostaria de me despedir dos laços fraternos que me prendem nesta vida que levo, dar adeus a minha conta bancária, ao meu cartão ponto e esquecer a minha cama confortável e o meu chuveiro quentinho...
Queria me despir das regras, do salto alto, das etiquetas e dos compromissos....
Ó vida! Quanto mundo, quantas terras, quantas gentes existem fora da minha cela...
Gostaria de me despedir também do relógio, este inimigo voraz que pulsa ininterruptamente dentro de mim, dentro da cabeça de tanta gente.
Parece utopia querer ser assim, um ser simples e mágico, diferente, desligado do materialismo que nos consome...Porém não é impossível...
Hoje senti meu coração bater mais forte e ele me dizia: ainda podes ser livre assim como estes dois garotos lindos, com cabelos compridos e cacheados, olhar hipnotizante e voz suave que transmitem a paz.
Assim, em harmonia com a vida, são os seres Thomas Bisinger e Ricardo Casarini. Os dois, que são fotógrafos, montaram o projeto “O Sul do Mundo”, um filminho de aproximadamente 10 minutos feito apenas de imagens do Sul da África e da América.

Um pegou carona num veleiro ruma à África, o outro, junto a um grupo de Hare Christna chegou no Chile.
Thomas percorreu alguns caminhos da África onde captou belas paisagens naturais e as expressões de um povo sofrido.
Ricardo visitou o Sul da América, clicou os costumes, as crenças e a garra de um povo que luta pela igualdade. Viu e registrou de perto os rostos excluídos e maltratados pela própria vida.
Diferente das imagens que estamos acostumados a assistir pela grande mídia, eles nos mostram, como estes povos, tão distantes, possuem fortes semelhanças, até mesmo aos nossos problemas.
Impressiona como as pessoas fotografadas na África são mais sorridentes do que os latinos, conhecidos como gente festeira. Thomas também ficou surpreso com a alegria dos africanos e disse “o sorriso deles, vem de dentro”.
Para Ricardo, os latinos são mais guerreiros, revoltados com a situação política e social do país em que vivem, “eles realmente lutam por seus direitos”, declarou. É incrível constatar que continentes distintos entre si possuam o mesmo problema: a desigualdade social.
Com a mostra deste fabuloso projeto, percebi que o jornalista não é só aquele que “engomadinho” coloca-se em frente às câmeras e faz pose de estrela. Jornalista não é só aquele que faz um lide perfeito num jornal, mas é aquele que com muita sensibilidade escreve uma bela matéria sobre o olhar oprimido do próximo. Jornalista é aquele que transforma valores, preconceitos, palavras, sons e imagens em ensinamentos e aprendizados.

Os meninos encantando a platéia com suas histórias...
Com tudo isto que vi e que talvez um dia eu possa praticar também, desejo do fundo do coração que o Thomas e o Ricardo consigam seguir viagem pela longa estrada da vida, registrando mais e outros olhares, sentimentos, paisagens e iluminando o horizonte daqueles que o assistem.
Todos àqueles que esqueceram como é o cheiro da terra molhada, o gostinho do banho tomado no rio, o frescor da cachoeira e não lembram que a vida não se resume a posses e bens... Para estes que não sabem como é a forma da liberdade, aquela que transforma, indico O Sul do Mundo, de Ricardo Casarini e Thomas Bisinger...Deixe a vida te levar!!!

Júlia Maria de Borba

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Caminhos da África

PUBLICADO NO SITE DA REVITSA TRIP- 15.04.2009 | Texto por Marília Kodic
http://revistatrip.uol.com.br/exclusivas/caminhos-da-Africa.html
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Com apenas trocados no bolso, Thomas Bisinger retrata suas memórias do Continente Negro


Quando surgiu a oportunidade de ir pra África do Sul num veleiro, com apenas R$600 no bolso, Thomas Paul Bisinger, 30, fotógrafo, não hesitou. Começava então a história de 14 meses que deu origem a seu primeiro livro, Minhas Memórias de África. Uma viagem pelo caminho interior”. Após uma difícil travessia de barco que durou 27 dias, com direito a enjôos e cheiro de mofo marinho na cabine, Thomas chegava ao início do que seria uma das experiências mais enriquecedores de sua vida.

Trabalhando como guia turístico em expedições que saíam da cidade do Cabo, ganhando pouco e gastando menos ainda, conheceu o que diz ser o ambiente mais impressionante de toda a sua vida: Deadvlei, na Namíbia. “A região é tao quente e isolada que não há nenhuma forma de vida que destrua a madeira das árvores mortas. Assim, elas ficam intactas por milhares de anos. A sensação é como se o tempo tivesse parado. Calma. Imobilidade. Morte. Mas não uma morte como costumamos vê-la, negativamente. É uma morte tranqüila, um silêncio profundo”.

Com uma enorme vontade de estar junto ao povo africano, o que o trabalho de guia não supria, foi então a Camphill, onde realizou trabalhos voluntários para uma comunidade antroposófica que cuida de pessoas com necessidades especiais: “Fui lá achando que ia ajudar e não demorou muito pra perceber que foi o contrário: por mais que eu tenha ajudado, sei que recebi muito mais do que dei”. Partiu depois para Botsuana, onde participou de uma ONG e conviveu junto aos bosquímanos. Lá, narra o processo intenso e profundo pelo qual passou, relatando a frustração sentida pelas dificuldades causadas pelas barreiras culturais.

Foi então que se deu, segundo Thomas, um dos momentos mais marcantes da viagem: o acampamento no deserto do Kalahari com os bosquímanos. Numa espécie de workshop, os mais velhos ensinavam aos mais novos sua cultura ancestral de coletores. “O acampamento é uma experiência incrível. É muito bom ver esse povo tão feliz e tão à vontade. Trabalham duro durante o dia, caminhando longas distâncias em diferentes grupos para coletar o máximo de moramas [castanhas da região] possível. () Ao pôr-do-sol a mesma história: todos descascando, separando, assando, cozinhando, cantando, comendo, dançando e dando muitas risadas.”

A miscigenação de culturas, fonte de motivação de Thomas e fio condutor do livro, fica clara no encontro com o povo de Botsuana. “A barreira invisível ainda está lá, mas eles me acolheram, compartilhando sua comida, sua cultura, sua alegria. Durante todo o fim de semana eu me senti como se estivesse num filme. Um filme do qual não faço parte. Mas estou lá, assistindo de dentro da tela”.

Depois de passar um mês em Moçambique, “curtindo cultura, comida e praias deliciosas”, sentiu finalmente o chamado de voltar pra casa. Com a passagem de avião paga pelo dono do barco que o levou, simbolizando o fim de um ciclo, Thomas finalmente encerrava a viagem – “com a certeza de um dia voltar, quando a Mãe África chamar de novo”. E se ele recomenda este tipo de viagem? “SIM!”, exclama. “Chamo isso de universidade da vida. Você vai lá, se joga, e confia! Esse é o segredo. Quando a gente faz isso, tudo flui. A gente tem medo do que não conhece. Mas, quando a gente transcende esse medo e se joga, aí os milagres acontecem”.

domingo, 29 de março de 2009

Eu nao tô morto, valeu?!

matéria publicada no jornal "O Sardinha" - Itajaí , 2004





Cheiro azedo de cachaça, roupas sujas, olhos vermelhos, testa franzida, barba por fazer. Com as mãos tremendo, ele se esforça para acender o cigarro. Volta e meia passa a mão na testa para enxugar o suor que escorre por todo o rosto. O sol está rachando e ele pede para tomar conta do carro de dois homens que estão saindo para pescar siri no Saco da Fazenda. De manhã é comum encontrá-lo caminhando no trecho entre o Atalaia e o centro da cidade. É o melhor horário para conversar com ele, quando está sóbrio. Quem não o conhece, o menospreza. Muitos têm medo, principalmente quando ele solta uma de suas gargalhadas escandalosas e inconfundíveis. Mas, por esses lados, é difícil alguém que não conheça o Nego Butte. “Todo mundo me conhece desde pequeninho aí. Às 5 da manhã os surfista tavam no mar e eu tava na praia correndo”.

Wilson Apolônio Caetano faz aniversário dia 15 de Junho, junto com a cidade de Itajaí. É conhecido por muitos como Butte, apelido de criança que nem ele lembra o porquê. Hoje está com 52 anos de idade, mas aparenta ser bem mais jovem. “Eu podia estar melhor”, diz, batendo a mão na barriga. “No passado jogava bola. Fui descobridor da praia Brava. Fazia quatro horas de corrida, fiz corrida até floripa”. Já jogou no time do Cometa, Parque Dom Bosco e Estiva. Butte e seu pai eram empregados no estádio de futebol do Marcílio Dias. Certo dia faltou um jogador para completar o treino e o chamaram para jogar. “Eles sabiam que eu jogava amador, jogava quando criança no cascalho, quando acabou o treino deram o título pra mim”. A rotina era jogar e depois ir para o bar tomar uns tragos.

Wilson conta que começou a tomar cachaça com treze anos. Na época, jogava de goleiro, quando começou a aparecer muita gente para a mesma posição – “tinha o marimbondo, nego gato, pinduca...” – e ele resolveu virar lateral direito. “Eu matava, matava mesmo, às vezes passava quatro ponteira esquerda. Eu sou o cara. Vou te mostrar uma coisa pra ti vê quem sou e pra não falar que sou mentiroso” - Ele tira do bolso uma matéria de jornal com o título “Atalaia Esporte Clube foi campeão em 1985”. No texto, o comentário confirma: “Nego Butte na lateral era simplesmente fantástico”.

A família vem de Camboriú, lá do Bairro Macacos. “Nós ia a pé, da vila de Camboriú até lá dentro, dava três horas de viagem - 12 quilômetros – era puxado. Um dia nós fomos num casamento a pé, eu, meu pai e minha mãe; deu uma trovoada....”. Faz mais de 15 anos que ele não vai ao bairro. A mãe morreu há doze anos. Na casa, hoje, moram o pai e a irmã. De vez em quando ele vai lá, mas geralmente dorme no Atalaia. A irmã não gosta quando ele aparece de mãos abanando. Está há quatro meses parado e diz que "graças a Deus" nunca faltou dinheiro. “Tem dia que eu não como, segunda-feira comi dois pãozinho só”.
Além de jogar futebol, Wilson teve diversos empregos. Foi vigia da Caixa Econômica e do Bradesco, durante cinco anos foi caseiro de uma casa atrás do Marambaia – “ Tinha uma lareira, eu digo que é lareira, mas era uma churrasqueira. Eu cozinhava marisco e fazia rango adoidado. Cuidava, capinava, roçava”. Num prédio em Cabeçudas, Butte começou como servente e depois foi zelador. “Lá em Cabeçudas sou considerado”. Também trabalhou no bolão da Sociedade Guarani – “Juntava as bola, depois era festa, só alegria. Comia, tomava altas gelada, whisky também. Sempre fui malandrinho, cachaceiro”.

Nego Butte está sempre por aí, na rua, nos bares. Conhece muita gente. Tem vezes que ele incomoda, quando está muito chapado. “Eu não gosto de atrito, eu gosto mais de paz. Uma vez o garçom veio e deu com o copo aqui, assim. Eu perdi um dente de bobeira. Meu dia-a-dia é daqui pra lá, de lá pra cá, tomo uma cervejinha...vou lá no bar da vó...O que me faltou foi um cara que desse um apoio, tipo que nem tem hoje em dia, um psicólogo, ou um cara que desse uma idéia. Eu tenho que dá um pique aí nessa praia pra tirar essa água do corpo. Eu tenho condição de fazer isso, mas só que aí eu chapo- hoje tem um negocinho lá, uma cervejinha...”

Apesar de tudo, ele ainda tem sonhos. "A turma vê eu com uma latinha na mão e diz: pô, esse negão jogava uma bola – todo mundo fala, eles tão abrindo um olho e fechando o outro, que eu não tô morto ainda, valeu? Meu sonho é jogar na Alemanha, no lugar do Cafu, em 2006. Como diz o Galvão Bueno: A gente se vê na Globo.”

Uma Mulher à frente do tempo

matéria publicada no jornal "O Sardinha" - Itajaí, 2004




Ela nasceu em Luís Alves em 30 de abril de 1917. Apoiando os braços enrugados sobre o balcão, conta histórias dos tempos da segunda guerra mundial como se tivesse sido ontem. Histórias que ouvimos dos professores e lemos em livros, que parecem muito distantes e, às vezes, até irreais. Mas, a conversa com Olga traz esse passado distante para o agora, quase palpável.

Olga Marangoni Waltrich, de 87 anos, é uma mulher cheia de vida. É a dona do Bar da Vó, também chamado Ponto Chic, que fica no centro de Itajaí, bem próximo ao mercado público. Abre todos os dias, das 8h às 17h. “Mais vale um covarde vivo que um valente morto. Prevenir o acidente é dever de todos”, justifica ela, por fechar tão cedo.

Entre as histórias que Olga conta e reconta, com muito gosto, está a de uma molecagem que fez em Itajaí. “Meu marido estava em Porto Alegre, eu peguei o carro e fui fazer bagunça”. À noite, com as ruas vazias, ela juntou a criançada e, juntas, trocaram as placas dos comércios. Na casa da parteira colocou a placa do açougue do Germano, a Casa Jaraguá virou conserto de sapato, e por aí vai. No dia seguinte a parteira deu queixa na polícia e Olga, com a consciência pesada, foi se entregar. O delegado não acreditou nela.

Morou 26 anos em São Paulo onde trabalhou de enfermeira, acompanhando idosos. Têm inúmeras cartas de recomendação de seus clientes, algumas na parede do bar, outras atrás do balcão. Certa vez, resolveu levar sua paciente para a praia do Guarujá. Como o motorista não tinha muita prática na estrada, pediu para usar o motorista de uma conhecida. Na estrada foram parados por alta velocidade. Olga não perdeu tempo. Falou para a paciente deitar em seu colo e, quando o guarda veio, disse que estavam com pressa para ir ao hospital, pois a senhora estava mal. Mostrou-lhe os documentos de enfermeira e o truque deu tão certo que foram escoltados pelo carro policial até o hospital de Santos.

Na década de 50 o marido tinha a loja Casa de Queimas onde ela vendia roupas que trazia de São Paulo. Na volta de uma viagem trouxe, em sua valise, escondidas nas roupas íntimas, duas latas de pedras de isqueiro vindas da Argentina. Foi detida em São Miguel e as latas apreendidas como contrabando. “Passei um telegrama para Dr. Nunes, na época não tinha telefone”. O telegrama foi repassado para Ademar de Barros, homem do governo, que respondeu: “Solta-me la chapa deste carro” conta ela, com seu sotaque italiano. Foi liberada na manhã seguinte e seguiu viagem. Em Itajaí foi recebida por Irineu Bornhausen de braços abertos.

Ao contar essas e outras histórias, Olga parece uma criança, orgulhosa de suas travessuras. Mas ela não fala só dessas coisas. Fala muito sobre política e está bem a par dos acontecimentos de Itajaí e do Brasil. Expressa claro desgosto por Bush e suas atitudes. Diz que o ser humano tem que ter quatro qualidades: ser honesto, humano, inteligente e valente.

Olga foi a primeira mulher em Itajaí a ter um carro. Era um modelo Ramona, ano 28, comprado em 1946 de uma viúva alemã de Indaial. Custou 800 mil réis. “Como vou dirigir, como faço? Eu sabia muito bem andar de carroça ou de trolinho”, pensou. O marido a ensinou: “Não tinha nada de segredo, o pé de fazê-lo ir, o pé para brecar, chave ligada, ia lá fora, dava manivela - trum trum trum - até que pegava, sentava dentro dele e ia andando... na cidade tinha o carro do prefeito, do posto de saúde e o meu”. Seu pai a repreendia dizendo que mulher que dirige é mulher vulgar, banal. “Olhei para ele, me rasei os olhos e continuei a dirigir”.

Não se arrepende de nada. “Trabalhei muito e se for para fazer tudo de novo, eu faço". Hoje vive em paz. "Não vou a lugar nenhum, não saio de casa. Sou muito católica, mas nem vou numa missa, não saio sequer para fazer compras. Tenho uma pequena aposentadoria e quem recolhe é meu sobrinho Marangoni”. Sem travessura, agora, a vida de Olga é dividida entre o trabalho no bar e os cuidados com sua filha Letícia, a “Ticinha”, que teve pneumonia aos sete anos e ficou incapacitada.

“Tenho freguesia sólida, mas o mal não tem letreiro na testa. Continuo a trabalhar mais um tempo se Deus me permitir, e sei que ele vai. Quando ele tirar minha filha, que faça de mim o que bem entender, porque sem eu ela não vive. E eu não vivo sem ela. É uma amiga, uma companheira. Sete e meia mais tardar já lhe aplico medicina e a ponho para dormir. Três ou quatro vezes por noite levanto, tiro ela, levo... cinco e meia estou de pé, faço café, adianto meu almoço, fresquinho, cada dia aquele pouquinho, e vivo. Estou muito contente assim como estou, sou feliz, contente com minha freguesia, meus filhos que me chamam de vó ou mãe. É um carinho. Ninguém aqui me dê uma piada ou queira me maltratar porque o próprio freguês não permite, ele já toma a frente". Assim é!!!

quinta-feira, 26 de março de 2009

flickr

para ver mais fotos: http://www.flickr.com/photos/thomasbisinger/

segunda-feira, 23 de março de 2009

Livro: Minhas Memórias de África, uma viagem pelo caminho interior


Capa do livro


Richard voando no deserto Namib - Namibia


Deadvlei, deserto Namib - Namibia


Cabelos e Moramas, Deserto do Kalahari - Botsuana


Dança Sagrada bosquimana, D'kar, Botsuana


O menino e o barco, Vilankulo - Moçambique


Arrastão, Vilankulo - Moçambique

Apresentação: Minhas Memórias da África é um misto de crônica, reportagem, poesia e sentimentos à flor da pele. Um olhar brasileiro sobre o que Thomas viu, viveu e sentiu, em suas andanças pelo sul da África, carregado de perplexidades e paixão - uma espécie de diário de viagem, no qual ele vai contando de seus encontros, desencontros, ódios e amores.

O texto e as fotos nos carregam pela África do Sul, Zimbábue, Namíbia, Botsuana, Lesotho e Moçambique, numa jornada que ultrapassa as estradas comuns e se embrenha no mundo interior de quem observa e escreve. No trabalho, Thomas revela o cotidiano dos viventes do sul da África, o trabalho, a dança, a alegria, a vida mesma, seu passar incessante e inexorável. Também desvela, de forma singular, uma chaga aberta, ferida sangrante, praticamente invisível aos olhos ocidentais.

Minhas Memórias de África é, então, muito mais do que o relato textual e fotográfico de um viajante. É um retrato assombrado de um longínquo lugar, muito amado, um diálogo amoroso entre um homem, um universo distante e um povo que, a despeito de todas as tentativas de destruição impetradas pelos colonizadores, ainda está de pé, resistindo, do seu jeito. Não há no texto nenhum juízo de valor. Só o relato e as perguntas... Muitas perguntas... Mas, como se diz, no bom jornalismo, libertador, mais valem as boas perguntas. Já as respostas, estas cabem ao leitor...

Elaine Tavares

O livro pode ser adquirido em livrarias ou em contato direto com o autor: thomasbisinger@gmail.com