PUBLICADO NO SITE DA REVITSA TRIP- 15.04.2009 | Texto por Marília Kodic
http://revistatrip.uol.com.br/exclusivas/caminhos-da-Africa.html
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Com apenas trocados no bolso, Thomas Bisinger retrata suas memórias do Continente Negro
Quando surgiu a oportunidade de ir pra África do Sul num veleiro, com apenas R$600 no bolso, Thomas Paul Bisinger, 30, fotógrafo, não hesitou. Começava então a história de 14 meses que deu origem a seu primeiro livro, Minhas Memórias de África. Uma viagem pelo caminho interior”. Após uma difícil travessia de barco que durou 27 dias, com direito a enjôos e cheiro de mofo marinho na cabine, Thomas chegava ao início do que seria uma das experiências mais enriquecedores de sua vida.
Trabalhando como guia turístico em expedições que saíam da cidade do Cabo, ganhando pouco e gastando menos ainda, conheceu o que diz ser o ambiente mais impressionante de toda a sua vida: Deadvlei, na Namíbia. “A região é tao quente e isolada que não há nenhuma forma de vida que destrua a madeira das árvores mortas. Assim, elas ficam intactas por milhares de anos. A sensação é como se o tempo tivesse parado. Calma. Imobilidade. Morte. Mas não uma morte como costumamos vê-la, negativamente. É uma morte tranqüila, um silêncio profundo”.
Com uma enorme vontade de estar junto ao povo africano, o que o trabalho de guia não supria, foi então a Camphill, onde realizou trabalhos voluntários para uma comunidade antroposófica que cuida de pessoas com necessidades especiais: “Fui lá achando que ia ajudar e não demorou muito pra perceber que foi o contrário: por mais que eu tenha ajudado, sei que recebi muito mais do que dei”. Partiu depois para Botsuana, onde participou de uma ONG e conviveu junto aos bosquímanos. Lá, narra o processo intenso e profundo pelo qual passou, relatando a frustração sentida pelas dificuldades causadas pelas barreiras culturais.
Foi então que se deu, segundo Thomas, um dos momentos mais marcantes da viagem: o acampamento no deserto do Kalahari com os bosquímanos. Numa espécie de workshop, os mais velhos ensinavam aos mais novos sua cultura ancestral de coletores. “O acampamento é uma experiência incrível. É muito bom ver esse povo tão feliz e tão à vontade. Trabalham duro durante o dia, caminhando longas distâncias em diferentes grupos para coletar o máximo de moramas [castanhas da região] possível. () Ao pôr-do-sol a mesma história: todos descascando, separando, assando, cozinhando, cantando, comendo, dançando e dando muitas risadas.”
A miscigenação de culturas, fonte de motivação de Thomas e fio condutor do livro, fica clara no encontro com o povo de Botsuana. “A barreira invisível ainda está lá, mas eles me acolheram, compartilhando sua comida, sua cultura, sua alegria. Durante todo o fim de semana eu me senti como se estivesse num filme. Um filme do qual não faço parte. Mas estou lá, assistindo de dentro da tela”.
Depois de passar um mês em Moçambique, “curtindo cultura, comida e praias deliciosas”, sentiu finalmente o chamado de voltar pra casa. Com a passagem de avião paga pelo dono do barco que o levou, simbolizando o fim de um ciclo, Thomas finalmente encerrava a viagem – “com a certeza de um dia voltar, quando a Mãe África chamar de novo”. E se ele recomenda este tipo de viagem? “SIM!”, exclama. “Chamo isso de universidade da vida. Você vai lá, se joga, e confia! Esse é o segredo. Quando a gente faz isso, tudo flui. A gente tem medo do que não conhece. Mas, quando a gente transcende esse medo e se joga, aí os milagres acontecem”.
uma viagem acronológica multilingue através de pALAVRAS e iMAGENS de minhas andanças por este mundo
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sexta-feira, 17 de abril de 2009
Caminhos da África
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domingo, 29 de março de 2009
Uma Mulher à frente do tempo
matéria publicada no jornal "O Sardinha" - Itajaí, 2004

Ela nasceu em Luís Alves em 30 de abril de 1917. Apoiando os braços enrugados sobre o balcão, conta histórias dos tempos da segunda guerra mundial como se tivesse sido ontem. Histórias que ouvimos dos professores e lemos em livros, que parecem muito distantes e, às vezes, até irreais. Mas, a conversa com Olga traz esse passado distante para o agora, quase palpável.
Olga Marangoni Waltrich, de 87 anos, é uma mulher cheia de vida. É a dona do Bar da Vó, também chamado Ponto Chic, que fica no centro de Itajaí, bem próximo ao mercado público. Abre todos os dias, das 8h às 17h. “Mais vale um covarde vivo que um valente morto. Prevenir o acidente é dever de todos”, justifica ela, por fechar tão cedo.
Entre as histórias que Olga conta e reconta, com muito gosto, está a de uma molecagem que fez em Itajaí. “Meu marido estava em Porto Alegre, eu peguei o carro e fui fazer bagunça”. À noite, com as ruas vazias, ela juntou a criançada e, juntas, trocaram as placas dos comércios. Na casa da parteira colocou a placa do açougue do Germano, a Casa Jaraguá virou conserto de sapato, e por aí vai. No dia seguinte a parteira deu queixa na polícia e Olga, com a consciência pesada, foi se entregar. O delegado não acreditou nela.
Morou 26 anos em São Paulo onde trabalhou de enfermeira, acompanhando idosos. Têm inúmeras cartas de recomendação de seus clientes, algumas na parede do bar, outras atrás do balcão. Certa vez, resolveu levar sua paciente para a praia do Guarujá. Como o motorista não tinha muita prática na estrada, pediu para usar o motorista de uma conhecida. Na estrada foram parados por alta velocidade. Olga não perdeu tempo. Falou para a paciente deitar em seu colo e, quando o guarda veio, disse que estavam com pressa para ir ao hospital, pois a senhora estava mal. Mostrou-lhe os documentos de enfermeira e o truque deu tão certo que foram escoltados pelo carro policial até o hospital de Santos.
Na década de 50 o marido tinha a loja Casa de Queimas onde ela vendia roupas que trazia de São Paulo. Na volta de uma viagem trouxe, em sua valise, escondidas nas roupas íntimas, duas latas de pedras de isqueiro vindas da Argentina. Foi detida em São Miguel e as latas apreendidas como contrabando. “Passei um telegrama para Dr. Nunes, na época não tinha telefone”. O telegrama foi repassado para Ademar de Barros, homem do governo, que respondeu: “Solta-me la chapa deste carro” conta ela, com seu sotaque italiano. Foi liberada na manhã seguinte e seguiu viagem. Em Itajaí foi recebida por Irineu Bornhausen de braços abertos.
Ao contar essas e outras histórias, Olga parece uma criança, orgulhosa de suas travessuras. Mas ela não fala só dessas coisas. Fala muito sobre política e está bem a par dos acontecimentos de Itajaí e do Brasil. Expressa claro desgosto por Bush e suas atitudes. Diz que o ser humano tem que ter quatro qualidades: ser honesto, humano, inteligente e valente.
Olga foi a primeira mulher em Itajaí a ter um carro. Era um modelo Ramona, ano 28, comprado em 1946 de uma viúva alemã de Indaial. Custou 800 mil réis. “Como vou dirigir, como faço? Eu sabia muito bem andar de carroça ou de trolinho”, pensou. O marido a ensinou: “Não tinha nada de segredo, o pé de fazê-lo ir, o pé para brecar, chave ligada, ia lá fora, dava manivela - trum trum trum - até que pegava, sentava dentro dele e ia andando... na cidade tinha o carro do prefeito, do posto de saúde e o meu”. Seu pai a repreendia dizendo que mulher que dirige é mulher vulgar, banal. “Olhei para ele, me rasei os olhos e continuei a dirigir”.
Não se arrepende de nada. “Trabalhei muito e se for para fazer tudo de novo, eu faço". Hoje vive em paz. "Não vou a lugar nenhum, não saio de casa. Sou muito católica, mas nem vou numa missa, não saio sequer para fazer compras. Tenho uma pequena aposentadoria e quem recolhe é meu sobrinho Marangoni”. Sem travessura, agora, a vida de Olga é dividida entre o trabalho no bar e os cuidados com sua filha Letícia, a “Ticinha”, que teve pneumonia aos sete anos e ficou incapacitada.
“Tenho freguesia sólida, mas o mal não tem letreiro na testa. Continuo a trabalhar mais um tempo se Deus me permitir, e sei que ele vai. Quando ele tirar minha filha, que faça de mim o que bem entender, porque sem eu ela não vive. E eu não vivo sem ela. É uma amiga, uma companheira. Sete e meia mais tardar já lhe aplico medicina e a ponho para dormir. Três ou quatro vezes por noite levanto, tiro ela, levo... cinco e meia estou de pé, faço café, adianto meu almoço, fresquinho, cada dia aquele pouquinho, e vivo. Estou muito contente assim como estou, sou feliz, contente com minha freguesia, meus filhos que me chamam de vó ou mãe. É um carinho. Ninguém aqui me dê uma piada ou queira me maltratar porque o próprio freguês não permite, ele já toma a frente". Assim é!!!

Ela nasceu em Luís Alves em 30 de abril de 1917. Apoiando os braços enrugados sobre o balcão, conta histórias dos tempos da segunda guerra mundial como se tivesse sido ontem. Histórias que ouvimos dos professores e lemos em livros, que parecem muito distantes e, às vezes, até irreais. Mas, a conversa com Olga traz esse passado distante para o agora, quase palpável.
Olga Marangoni Waltrich, de 87 anos, é uma mulher cheia de vida. É a dona do Bar da Vó, também chamado Ponto Chic, que fica no centro de Itajaí, bem próximo ao mercado público. Abre todos os dias, das 8h às 17h. “Mais vale um covarde vivo que um valente morto. Prevenir o acidente é dever de todos”, justifica ela, por fechar tão cedo.
Entre as histórias que Olga conta e reconta, com muito gosto, está a de uma molecagem que fez em Itajaí. “Meu marido estava em Porto Alegre, eu peguei o carro e fui fazer bagunça”. À noite, com as ruas vazias, ela juntou a criançada e, juntas, trocaram as placas dos comércios. Na casa da parteira colocou a placa do açougue do Germano, a Casa Jaraguá virou conserto de sapato, e por aí vai. No dia seguinte a parteira deu queixa na polícia e Olga, com a consciência pesada, foi se entregar. O delegado não acreditou nela.
Morou 26 anos em São Paulo onde trabalhou de enfermeira, acompanhando idosos. Têm inúmeras cartas de recomendação de seus clientes, algumas na parede do bar, outras atrás do balcão. Certa vez, resolveu levar sua paciente para a praia do Guarujá. Como o motorista não tinha muita prática na estrada, pediu para usar o motorista de uma conhecida. Na estrada foram parados por alta velocidade. Olga não perdeu tempo. Falou para a paciente deitar em seu colo e, quando o guarda veio, disse que estavam com pressa para ir ao hospital, pois a senhora estava mal. Mostrou-lhe os documentos de enfermeira e o truque deu tão certo que foram escoltados pelo carro policial até o hospital de Santos.
Na década de 50 o marido tinha a loja Casa de Queimas onde ela vendia roupas que trazia de São Paulo. Na volta de uma viagem trouxe, em sua valise, escondidas nas roupas íntimas, duas latas de pedras de isqueiro vindas da Argentina. Foi detida em São Miguel e as latas apreendidas como contrabando. “Passei um telegrama para Dr. Nunes, na época não tinha telefone”. O telegrama foi repassado para Ademar de Barros, homem do governo, que respondeu: “Solta-me la chapa deste carro” conta ela, com seu sotaque italiano. Foi liberada na manhã seguinte e seguiu viagem. Em Itajaí foi recebida por Irineu Bornhausen de braços abertos.
Ao contar essas e outras histórias, Olga parece uma criança, orgulhosa de suas travessuras. Mas ela não fala só dessas coisas. Fala muito sobre política e está bem a par dos acontecimentos de Itajaí e do Brasil. Expressa claro desgosto por Bush e suas atitudes. Diz que o ser humano tem que ter quatro qualidades: ser honesto, humano, inteligente e valente.
Olga foi a primeira mulher em Itajaí a ter um carro. Era um modelo Ramona, ano 28, comprado em 1946 de uma viúva alemã de Indaial. Custou 800 mil réis. “Como vou dirigir, como faço? Eu sabia muito bem andar de carroça ou de trolinho”, pensou. O marido a ensinou: “Não tinha nada de segredo, o pé de fazê-lo ir, o pé para brecar, chave ligada, ia lá fora, dava manivela - trum trum trum - até que pegava, sentava dentro dele e ia andando... na cidade tinha o carro do prefeito, do posto de saúde e o meu”. Seu pai a repreendia dizendo que mulher que dirige é mulher vulgar, banal. “Olhei para ele, me rasei os olhos e continuei a dirigir”.
Não se arrepende de nada. “Trabalhei muito e se for para fazer tudo de novo, eu faço". Hoje vive em paz. "Não vou a lugar nenhum, não saio de casa. Sou muito católica, mas nem vou numa missa, não saio sequer para fazer compras. Tenho uma pequena aposentadoria e quem recolhe é meu sobrinho Marangoni”. Sem travessura, agora, a vida de Olga é dividida entre o trabalho no bar e os cuidados com sua filha Letícia, a “Ticinha”, que teve pneumonia aos sete anos e ficou incapacitada.
“Tenho freguesia sólida, mas o mal não tem letreiro na testa. Continuo a trabalhar mais um tempo se Deus me permitir, e sei que ele vai. Quando ele tirar minha filha, que faça de mim o que bem entender, porque sem eu ela não vive. E eu não vivo sem ela. É uma amiga, uma companheira. Sete e meia mais tardar já lhe aplico medicina e a ponho para dormir. Três ou quatro vezes por noite levanto, tiro ela, levo... cinco e meia estou de pé, faço café, adianto meu almoço, fresquinho, cada dia aquele pouquinho, e vivo. Estou muito contente assim como estou, sou feliz, contente com minha freguesia, meus filhos que me chamam de vó ou mãe. É um carinho. Ninguém aqui me dê uma piada ou queira me maltratar porque o próprio freguês não permite, ele já toma a frente". Assim é!!!
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segunda-feira, 23 de março de 2009
Livro: Minhas Memórias de África, uma viagem pelo caminho interior

Capa do livro
Richard voando no deserto Namib - Namibia
Deadvlei, deserto Namib - Namibia
.jpg)
Cabelos e Moramas, Deserto do Kalahari - Botsuana
Dança Sagrada bosquimana, D'kar, Botsuana
.jpg)
O menino e o barco, Vilankulo - Moçambique
Arrastão, Vilankulo - Moçambique
Apresentação: Minhas Memórias da África é um misto de crônica, reportagem, poesia e sentimentos à flor da pele. Um olhar brasileiro sobre o que Thomas viu, viveu e sentiu, em suas andanças pelo sul da África, carregado de perplexidades e paixão - uma espécie de diário de viagem, no qual ele vai contando de seus encontros, desencontros, ódios e amores.
O texto e as fotos nos carregam pela África do Sul, Zimbábue, Namíbia, Botsuana, Lesotho e Moçambique, numa jornada que ultrapassa as estradas comuns e se embrenha no mundo interior de quem observa e escreve. No trabalho, Thomas revela o cotidiano dos viventes do sul da África, o trabalho, a dança, a alegria, a vida mesma, seu passar incessante e inexorável. Também desvela, de forma singular, uma chaga aberta, ferida sangrante, praticamente invisível aos olhos ocidentais.
Minhas Memórias de África é, então, muito mais do que o relato textual e fotográfico de um viajante. É um retrato assombrado de um longínquo lugar, muito amado, um diálogo amoroso entre um homem, um universo distante e um povo que, a despeito de todas as tentativas de destruição impetradas pelos colonizadores, ainda está de pé, resistindo, do seu jeito. Não há no texto nenhum juízo de valor. Só o relato e as perguntas... Muitas perguntas... Mas, como se diz, no bom jornalismo, libertador, mais valem as boas perguntas. Já as respostas, estas cabem ao leitor...
Elaine Tavares
O livro pode ser adquirido em livrarias ou em contato direto com o autor: thomasbisinger@gmail.com
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