segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Esmeraldas e Gatos


Às 21:30h já estou praticamente dormindo quando Cami me diz: “Me acompanha? estou ouvindo um gatinho miando lá embaixo, quero ver se está bem.” Um pouco relutante me levanto, descemos o lance de escadas do hotel e cruzamos a rua de terra. Sem pensar Cami entra no terreno baldio que é uma pequena selva, guiada pelo miado desolado do gato entre as folhagens. Acompanho-lhe. De repente vejo um vulto branco passando à minha frente e novamente desaparecendo. Era o próprio. Cami o segue, determinada. Eu espero. Logo ela pede que eu traga a lanterna. Vou buscá-la no quarto e lhe entrego.

Cami se embrenha no mato com a lanterna e mia como uma gata para atrair o filhote. Entre a vontade de dormir e o respeito pela atitude dela de querer ajudar o bicho, fico sem saber o que fazer e espero. Após uns bons minutos de miados por ambas partes, escuto um alvoroço na mata e então gritos desesperados do gatinho. Quando o gato estava próximo o suficiente, Cami deu o bote. Como um animal que está atrás de sua presa, lançou-se encima do gato certeiramente e o agarrou. Levou uma mordida mas não soltou.

Então pede que eu tire minha camisa para que possa envolver este ser que parece nunca haver tido contato com humanos. Diz que aparenta ter um ou dois meses. Voltamos ao quarto e Cami o coloca no chão. Pede que eu vá comprar algo para dar-lhe de comer. Visto outra camisa e lá vou eu.

Estamos no povoado de Selva Alegre, província de Esmeraldas, norte do Equador. É uma das muitas comunidades afro-equatorianas que ficam à beira do rio, nesta região. A vila é formada basicamente por uma rua principal com algumas pequenas ruazinhas adjacentes. A maioria das construções é de madeira ou bambu. Tem umas 3 lojas, um telefone, dois restaurantes e um hotel, este de concreto. Aqui a maioria das pessoas anda de pés descalços, lavam as roupas e a si mesmos no rio que corre paralelo à rua principal. Nele também jogam seu lixo. Canoas motorizadas vão e vêm todos os dias, levando e trazendo pessoas dos infindos povoados rio acima que não tem acesso por estrada.

Em busca de algo pro gato comer, caminho pela rua principal até os dois restaurantes, que ficam um à frente do outro. Estão fechados. Um dos muitos grupos que está sentado na lateral me chama para conversar. Respondo a algumas perguntas básicas como ‘de onde sou’ e ‘para onde vou’ e lhes digo que tenho que ir pois preciso encontrar algo de comer para um gatinho que encontramos chorando, ao que todos caem na gargalhada. Sem entender nada, me despido e vou até a loja que me dizem estar aberta. Já fechou, mas pelas frestas de madeira vejo que há uma luz acesa dentro. Um homem do outro lado da rua me diz para bater na porta que tem gente dentro e logo se aproxima para me ajudar. Compro um pão que me é jogado por um vão acima da porta. Passo o dinheiro por uma das frestas na madeira.

O gato está debaixo da cama, encolhido. Cami parte pedaços do pão e joga em direção a ele. Após uns instantes ele se aproxima e começa a comer. Passado um bom tempo, pergunto-lhe o que quer fazer. Ela não sabe se o deixa passar a noite no quarto ou se o devolve ao lugar onde o achou para que sua mãe talvez o encontre. Pela janela vê um gato adulto atravessando a rua. Pensa que talvez seja a mãe e decide levar o filhote.
Espantamos-lhe para que saia de baixo da cama e Cami o agarra. Sentada na beira da cama, com o bichinho enrolado em minha camiseta, Camila começa a chorar. Como uma mãe preocupada com seu filho, ela não tira os olhos dele e simplesmente chora. Passado algum tempo ela diz: “Não choro por esse gato especificamente, mas sim por todos os animais que passam por coisas como esta, abandonados, maltratados por indiferença de nós, humanos”. Levanta-se e vamos para a rua. Ela entra no terreno e o deixa em um buraco que pensa haver sido feito por sua mãe.

Voltamos ao quarto e nos deitamos. O gato mia em tom de choro algumas vezes. Dormimos. No meio da noite começa a chover. Cami se preocupa mas decide deixá-lo onde está. Se sua mãe o encontrar, estará seguro.

Lá pelo meio da noite escutamos o mesmo miado. Ao menos pensamos ser o mesmo. E desta vez está bem próximo. Cami vai ver e encontra o gato já no topo da escada, na porta do hotel. O traz para dentro e logo se dá conta de que não é o mesmo gato. “É seu irmão”, deduz ela. Decide deixá-lo no quarto, mesmo porque lá fora chove forte. Tentamos dormir, mas o choro do gato dificulta. “O choro do gato é tão forte como a chuva” diz ela.

Com a primeira luz do dia, Camila o leva de volta ao terreno selvagem. Vai até o buraco onde deixara o outro e o encontra no mesmo lugar. A mãe, que está ali ao lado, se assusta e desaparece. Cami solta o outro filhote que vai direto ao encontro do irmão. Os dois se cheiram, se reconhecem e movem todo o corpo com os rabos esticados para o alto, de tanta felicidade. Um deles, como que agradecendo, vai ate os pés de Cami e volta correndo para a companhia do irmão. O sol já vai nascer.

Eko Porã 2008



No dia 23 de setembro de 2008 foi realizado o VI Eko Porã - Festival da Primavera na UFSC - Florianópolis.

O vento da mudança soprou forte durante todo o dia, lembrando a todos o motivo maior de estar ali: A Celebração da chegada da Primavera. O Sol e a Chuva dançaram incessantemente sobre nossas cabeças abençoando e purificando todos ali presentes.

Pulando, dançando e cantando, comungamos com a Mãe Terra para agradecer o alimento por ela produzido com tanto amor e oferecê-lo ao Grande Pai. A natureza se fez presente em constantes manifestações dos 4 e ainda mais elementos que só pudemos perceber como bençãos àquele encontro de tantas tribos, tantas culturas, dissolvendo-se numa só: Hare Krishna, boi de mamão, Rastafári, alimentação vegetariana, Guarani, música ao vivo, Daime, teatro, mostras de fotografia, alimentação prânica, Ananda Marga, yoga, artesanato, poesia e muito amor fizeram deste simples encontro a manifestação de seu significado: Eko Porã, que, em Guarani, significa 'VIDA BOA E BONITA PARA TODOS'

E viva a Primavera!!!

Um Ser...Lucia



VEJA O VÍDEO: http://www.youtube.com/watch?v=tXrc3lB0t9E

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Um Ipê na minha rua




com o fim do inverno e a chegada da primavera, veio este presente explodindo em alegria. E assim como veio, se foi.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Pipoca no Ibira



Meu blog tem estado um pouco inativo. Escolhi esta imagem, quase que aleatoriamente, como um primeiro passo na reativação deste espaço.