segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Além

Me vem a imagem dos olhos de um cego, abertos, escancarados, espalhados. Não olham para nenhum lugar como se vissem tudo ao mesmo tempo. Talvez não vejam tudo, mas sei que vêem alem. Não ver proporciona ver além. É como o não fazer nada do tantra. Não faz sentido mas assim e porque assim o sinto.
Faz calor. Sirenes distantes preenchem o ar por breves instantes deixando-me atento ao Om, som da cidade, ao desaparecerem. São muitos Oms-sons formando um. Às vezes identifico um fusca. Um trator. Um gerador? Esses vão e vem. O Om não. Este é constante, onipresente. 
Uma brisa suave entra pela janela dando uma sensação de frescor em meu corpo transpirado. Meus bigodes e minhas costas sentem até um gelado. 
É bom estar, simplesmente estar. Ouço o toque chato e repetitivo de um celular. Não sei se está aí ou se e só dentro de minha cabeça, impregnado em minha mente de tantas vezes escutá-lo. Dou graças por não ter celular aqui e agora. Iemanjá demandou e a onda o penetrou.
Sentado aqui no chão do apartamento não sei o que fazer. Isso me dá graça e atá alegria de um jeito irônico. Quanto já sofri nesta vida por não saber o que fazer. Agora estou aqui, igual mas diferente. A mesma vista de outro ponto. 
Me emociona como as coisas acontecem por si só quando me permito fazer nada. quando me abstenho do esforço. 
Brinco com a janela que o vento fecha e eu abro repetidamente. Ela sorri. Mexo os dedos dos pés. Dobro, estico. Dobro, estico. Observo, sinto. Sem querer, me vejo em visão difusa. Olho para tudo e não vejo nada. Vejo além.

Um comentário:

morgana disse...
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