terça-feira, 29 de maio de 2007

Um Bom Homem - Cidade do Cabo - RSA

A Cidade do Cabo e um homem bom

Passeando pelo centro da Cidade do Cabo, na África do Sul, faço uma pausa e sento-me num banco. À minha volta estão modernas construções com lojas de roupas da moda, joalherias, cabeleireiros chiques e bancos. Isso me faz sentir como se estivesse em alguma cidade da Europa. Dezenas de pessoas andando com pressa, para lá e para cá, lembram São Paulo. Ao meu lado, duas mulheres conversam em Afrikaans, enquanto fumam um cigarro.

Em outro banco, dois homens com uniformes azuis conversam tranqüilamente. Logo à frente, um homem com traços indianos, vestindo jaqueta de couro preta, espera o tempo passar observando o que acontece à sua volta. Não muito distante há uma venda de flores. Das mais variadas cores, separadas em baldes de plástico, deixam esse cercado de pedras e cimento um pouco mais alegre. Pena que as flores estejam mortas. Atrás de mim há um camelô vendendo tudo que é tipo de bolsas de couro, desde carteiras até malas de viagem. Mais ao fundo, por uma das principais avenidas da cidade, a Adderley Street, trafegam carros. No segundo andar de um dos prédios da rua há uma estátua de Hércules segurando o mundo.

No lado oposto, sentado em uma caixa de plástico, na frente de uma vitrine cheia de roupas modernas, está o ator principal desta cena. Ele se esconde atrás do violão, que toca com muito sentimento. O instrumento está na posição vertical, com a base apoiada em seu colo. No corpo do violão há um pedaço de papelão que diz: “Ndicela amadipo
andiboni enkosi” (que significa “sou cego, alguém me ajude”, na língua xhosa). Quando ele pára de tocar eu me aproximo para cumprimentar e oferecer um pacote de amendoins que tinha em mãos. Ele agradece e continua a tocar e cantar. Canta em inglês e xhosa.

Não entendo muitas palavras, a não ser um “aleluia” de vez em quando. Mas isso é detalhe, porque sinto a música simples que ele toca incansavelmente segurando o violão com a mão direita. Usa o polegar para formar os acordes e, com a mão esquerda, marca o ritmo. As pessoas que passam, mesmo com pressa, dão uma diminuída nos passos para ver de onde vem esse som que toca lá no fundo, fazendo aflorar um sentimento estranho,
indescritível. Ficam surpresos ao ver que vem de um cego pedindo ajuda enquanto toca a música simples e repetitiva. Uma mulher se acerca e diz ser sua esposa. Seu nome é Abigail e o marido chama Good Man, que significa “Homem bom”. Ela está desempregada e tem dois filhos para criar. O dia segue e o Bom Homem vai fazendo seu trabalho. Com violão e sentimento, ele toca qualquer um que cruze seu caminho.
http://www.flickr.com/photos/thomasbisinger/470172093/

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