sexta-feira, 15 de junho de 2007

Carta Aberta ao Presidente de Botsuana

Nós dizemos que se você tem problemas, deve solucioná-los e não se esconder deles. Se você se esconde deles, signifi ca que você ainda tem os problemas, os problemas do seu coração, porque eles permanecem dentro de seu coração ardente. Mas, se você pega esses problemas no meio das pessoas e fala abertamente sobre eles, se você leva essa dor aos outros e pede sua ajuda, todos vocês juntos vão achar um caminho.
/ANGN!AO/UN - do livro Healing Makes our Hearts Happy



Naro Giraffe apresenta danças sagradas ao Presidente Mogae

Sua Excelência,

Sou um viajante do Brasil que passou algum tempo em seu lindo país, Botsuana, com incríveis povos e culturas. Tenho feito alguma pesquisa na situação dos chamados ´Basarwa` (bosquímanos) e sua recolocação.

O senhor diz que quer desenvolver estas pessoas, mas de acordo com o dicionário, desenvolver é “fazer maior, ou melhor”. Como o senhor pode saber o que é melhor para um povo completamente diferente, com uma cultura e valores diferentes, o qual tem morado nesta terra por mais tempo que seu próprio povo?
Eu não estou dizendo que eles devem tem mais direitos por isso, mas penso que devem ter os mesmos direitos. Eles devem ter a chance de escolher como querem viver suas próprias vidas. Se eles escolhem viver como caçador-coletores, com o devido respeito, quem é o senhor para dizer que eles não podem fazer isto porque é algo do passado?

Numa de suas falas o senhor declarou: “… nós devemos continuar também a rejeitar o velho colonial mito do apartheid (segregação racial) que insiste que algumas comunidades negras são mais indígenas que outras”. De acordo com a ONU: “povos indígenas são os herdeiros e praticantes de culturas únicas e de meios de relacionar com outras pessoas e o meio-ambiente. Povos Indígenas retiveram características sociais, culturais, econômicas e políticas que são distintas daquelas das sociedades dominantes nas quais elas vivem”. Citando Alice Mogwe: “A tragédia é que nós estamos jogando de novo o jogo de colonização se nós não permitirmos aos San* o direito de serem diferentes”. O senhor vê a conexão? Não é sobre considerar algumas pessoas mais indígenas que outras, é sobre o significado de ser indígena e o que isso implica em
sua maneira de viver. O governo de Botsuana adotou características ocidentais de sociedade, cultura, economia e política. Algumas pessoas/povos, tais como os basarwa/Bosquímanos não querem isto. E não é sobre eles voltarem para seus velhos hábitos e andarem por aí em peles de animais. É sobre eles escolherem como querem viver e como querem desenvolver.

Porque eles não podem ser diferentes? Como senhor mesmo declarou: “A força e o sucesso de nossa nação dependem de nossa habilidade de apreciar e administrar nossas diferenças”. O país tem adotado uma maravilhosa política com a Visão 2016, mas o senhor se contradiz com suas ações presentes e algumas das metas: “… liberdade de vontade será completamente protegida”; “Haverá altos estandartes de moralidade pessoal e tolerantes atitudes sociais para pessoa/povos de diferentes culturas, tradições étnicas, religiões ou desabilidades”; “Botsuana será uma nação unida e orgulhosa”.

Botsuana tem tudo o que precisa para construir uma nação unida e orgulhosa, exceto que o governo está insistindo em expressar falta de ‘botho’ (palavra Setswana para respeito, bons modos) entre as minorias. É inaceitável que um presidente não respeite as pessoas de seu próprio país. É inaceitável que um presidente não respeite seus direitos mais
básicos, tais como a liberdade de escolher onde e como querem viver suas próprias vidas. Todos, inclusive as minorias, têm o direito de viver uma vida de dignidade sem hierarquias dizendo-lhes o que fazer, como viver, que línguas falar e em que acreditar. Eu espero que, por escrever isto, não seja estereotipado como apenas mais um romântico que quer ver os bosquímanos caminhando por aí em peles de animais ou um branco arrogante vindo lhes dizer o que fazer. Bem, não me entendam mal. Eu não quero dizer a vocês ou a eles (Bushman/Basarwa) o quê fazer. Eu não penso que eu sei melhor. Também não penso que vocês saibam melhor. É por isso que eu desejo que vocês parem de dizer a eles o que fazer, pensando que vocês sabem melhor.

Estive em New Xade e em alguns outros “re-assentamentos”. Fui informado que o governo está dando muita comida às pessoas re-assentadas em New Xade. Isto soa como boa ajuda, mas está somente fazendo-os completamente dependentes do governo. O senhor tira suas terras, seus direitos, sua independência como povo, suas vidas como eles a conhecem e, em troca, lhes dá dinheiro, comida e outros bens materiais. Muito dinheiro está sendo gasto no desenvolvimento dos acampamentos de re-assentamento, mas vocês estão se esquecendo de que as pessoas são o mais importante.

A princípio fiquei impressionado com o trabalho que a ONG Permaculture Trust of Botsuana (PTB) está fazendo para ajudar as pessoas a fazer pequenas hortas e criações de galinhas, a produzir tijolos para suas casas próprias, e começar uma loja de artesanato. Por outro lado, percebi que mesmo que este seja um lado positivo, no conjunto é desprezível. Está longe de compensar todas as perdas. O trabalho que a PTB está fazendo é só mais um meio de induzir os Basarwa a fazer que O SENHOR pensa ser melhor, menosprezando a posição deles. Na escola eles são forçados a aprender em inglês e setswana, mas nada em sua própria língua e cultura. Aos adultos é dado dinheiro e mercadorias, mas nenhuma consciência sobre como administrá-los. Assim como tantos
outros povos indígenas ao redor do mundo, isto está conduzindo-os à HIV/Aids, alcoolismo, violência doméstica e pobreza.

Ninguém está tentando negar ao governo de Botsuana o direito de desenvolver seus cidadãos. Realmente, ele tem a obrigação de fazer isto, mas de tal modo que respeite os direitos humanos - e o direito de participar completamente no processo de desenvolvimento e não ser coagido a “desenvolver” de tal modo que possa contradizer seus valores, cultura, e aspirações individuais e comuns.

Assim, venho por meio desta fazer um apelo ao governo de Botsuana e a todo seu lindo povo para que tenham um pouco mais respeito uns com os outros. Mostrem que vocês realmente se importam, ponham ‘botho’ em prática já.

Deus abençoe Botsuana e que TODOS os seus povos possam viver o Um Amor, Um Povo e Paz. Para ser um povo não é preciso que assimilem todas as culturas numa única, principal. É preciso que todos se juntem como Um, amando, respeitando e zelando um pelo outro. Com diversidade na unidade. Nossas culturas são nossas posses mais valiosas. O mundo está movendo para Um amor e Um povo, cada um no seu próprio passo. Ninguém precisa ser empurrado, nem mesmo os Basarwa/Bosquímanos.

Com amor e respeito

Thomas Bisinger

(carta enviada ao presidente de Botsuana, Festus Mogae e publicada no jornal Mmegi, de Botsuana)

Um comentário:

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