quarta-feira, 13 de junho de 2007

Rita e a Pedra Sagrada


Piedra Sagrada
Originally uploaded by Soluz
Povoado de Challapampa, Ilha do Sol, Lago Titicaca, Bolívia. No alto do morro há uma pequena chácara onde há uma pedra. Esta pedra foi esculpida e posicionada neste local há milhares de anos, provavelmente pela civilização Tiwanaku. Tem uma forma aparentemente abstrata e parece que talvez esconda algo debaixo da terra.

A chácara é habitada e cultivada por Rita Mendoza, seus pais e seu irmão. Rita é uma pessoa muito amável e de cabeça bem aberta. Ela nasceu na ilha do Sol, cresceu em La Paz e depois de crescida voltou a viver na ilha. Rita é paralítica e adora escrever poesia.

Ela conta que antes essas terras faziam parte de grandes fazendas e que, com a reforma agrária, o governo tirou as terras dos latifundiários e vendeu pequenos lotes a preços reduzidos para os verdadeiros donos daquela terra: o povo.

Sua família recebeu este pedaço onde "por acaso" esta a tal pedra, hoje conhecida como pedra sagrada (não confundir com rocha sagrada, que também está na ilha do Sol).

Rita diz que eles têm que fazer muitas oferendas a Pacha Mama (Mãe Terra) com folhas da sagrada Coca e às vezes com fetos de lhama. A família tem certa insegurança de cultivar a terra ao redor da pedra - não sabem se é certo fazê-lo, por ser um local sagrado. Tem muito respeito pela pedra milenar.

Rita comenta que muitos turistas entram em seu terreno para ir ver a pedra, o que lhes é um pouco incômodo. Não sabem o que fazer, porque também não podem impedir que as pessoas a vejam, afinal não são donos da pedra, e todos devem ter direito a apreciar algo assim.

Pergunta se acreditamos na Pacha Mama (Mãe Terra) e em oferendas a ela. Dizemos que sim. Então sugere que façamos uma oferenda com folhas de Coca. Cada um escolhe quatro folhas bonitas (uma para cada direção - norte, sul, leste, oeste) e faz seus pedidos. Então enterramos todas junto à pedra. Esta pedra tem uma energia muito forte, o que faz com que fiquemos apreciando-a por um par de horas, enquanto Rita nos conta histórias da ilha.

O nome original da Ilha do Sol era Titicaca. No lago foi encontrado, já há algumas décadas, um sítio arqueológico com antiqüíssimas pecas de ouro. Estas estavam, até recentemente, no museu da comunidade de Challapampa. Por causa de brigas pelo dinheiro entre esta comunidade e sua vizinha Challa, o ouro sumiu - dizem que está escondido em Challa - e as duas comunidades vivem em constante conflito.

No dia seguinte a visita à pedra Sagrada, pegamos um barco no sul da Ilha para ir visitar as ruínas no norte da ilha. Passando pela comunidade de Challa, somos abordados por dois pequenos barcos à vela e um outro a motor. A bordo deste ultimo, um homem encapuzado segura uma pedra com a qual nos ameaça. Um jovem que tenta esconder seu rosto com seu casaco e gorro tem um estilingue de brinquedo com pedras. Num dos barcos de pesca, um homem também empunha um estilingue. O capitão do nosso barco tenta lhes convencer a nos deixar passar, mas de nada adianta. Temos que ir ate a praia, onde a comunidade esta reunida. Ficamos atracados a um pequeno píer de madeira na praia por uns 10 minutos enquanto o capitão resolve a situação, provavelmente com dinheiro. Então podemos seguir para conhecer as ruínas do norte da ilha do Sol.

EL PEREGRINO
(De Rita Mendoza)

"Peregrino somos
A la sagrada Isla del Sol
Santuario de Dioses
Lago Titiqaqa
Deidad de la raza Aymara

Peregrino nos llaman
Si...somos peregrinos
Buscamos en el alba un
Suspiro del alma."
http://www.flickr.com/photos/thomasbisinger/184362472/

Nenhum comentário: