terça-feira, 12 de junho de 2007

Zé Kleuber e as castanhas elétricas


Zé Kleuber
Originally uploaded by Soluz
(publicado na revista 'pobres & nojentas')

Numa festa particular em Rio Branco, encontro um homem baixo, de longos cabelos brancos, cacheados. Mais cedo daquele mesmo dia havíamos nos visto na apresentação musical “Boca de Mulher” que aconteceu no Teatro Placido de Castro. Lá, ele me cumprimentou como se me conhecesse, e eu cumprimentei de volta sentindo certa conexão.

Na festa ele vem até mim e explica que, no teatro, achou que eu fosse outra pessoa. Então a conversa flui e ele me conta algumas historias de sua vida, que era artesão, vendia "trampo" (colares, pulseiras, etc.) para sobreviver. Então teve sério problema na vista que o obrigou a abandonar esta profissão. Pediu a Deus que o orientasse quanto ao que fazer da vida - Como poderia a esta altura, mudar de profissão? O que faria?
Então veio a "resposta": ele deveria compor canções. Ele estranhou, pois não sabe tocar nenhum instrumento musical, apesar de já haver composto belas canções para sua religião.

Zé Kleuber, hoje com 56 anos de idade, se sustenta como compositor. Já ganhou alguns prêmios em festivais de diferentes partes do Brasil.

Desde o começo de nossa conversa algo me chama muito a atenção em Kleuber: seu colar. Parece ser feito com mini sementes de Aguaí. Ao longo do papo eu fico examinando para ver se realmente são “mini aguais”. Então lhe pergunto. Ele da uma risada, tira o colar e o coloca em minhas mãos, perguntando se conheço a historia desta semente. Digo que não conheço uma historia, mas que sei que ela tem muita força. Mas também nunca havia visto esta variedade "mini" – que, aliás, é muito charmosa.

Então ele me conta um pouco de sua historia: nasceu em Pernambuco e cresceu no Maranhão. Lá por 74? Estava ele viajando com amigos e foram andando desde Rio Branco, no leste do Acre até Cruzeiro do Sul, no oeste.

Pela estrada, encontraram uma cobra que fazia movimentos ameaçadores. Na dúvida, mataram a cobra com uma pequena espingarda que tinham. Então veio um menino. Eles nem tinham percebido que havia casas próximo dali - era muita mata. As casas eram de seringueiros. O menino os indicou como chegar numa casa e caminharam ate lá e foram muito bem recebidos. Contaram que mataram uma cobra ali no caminho e o menino, que fora ver a cobra e voltara a casa, disse que não era venenosa, mas sim do tipo que come as venenosas. Kleuber disse que ficou mal com isso... já não gostava de matar animais, e ainda mais inofensivos...almoçaram e continuaram a viagem.

Mais adiante encontraram índios que acampavam ali no caminho, e numa conversa, ele contou que tinha matado aquele tipo de cobra e que aquilo o incomodava. Disse que uma índia se levantou e foi buscar algo. Voltou com uma semente de aguai amarrada num cordão de palha. Disse-lhe que as cobras iriam lhe perseguir, e que deveria usar isto amarrado na cintura, abaixo do umbigo, para proteção.

Ele o fez. A semente o lembrou de sua infância, no Maranhão, quando brincava com essas sementes. Pegava os frutos verdes e macios e fincava gravetinhos em sua carne para imitar animais.

No outro dia, estavam andando na trilha, em fila indiana, quando ouviu uma cobra se aproximando. Ela vinha em sua direção e, de repente, deu meia volta e sumiu na mata.

Tempos depois, ouviu falar de Dr. Henrique Smith que estudou esta semente e seus poderes. Este escreveu um livro chamado Aguai Zen. Com a foto kirlian (foto da aura) da semente, verificou como tem uma aura poderosa.
Então certo dia ele achou, sob uma arvore, estas mini sementes de aguai, conhecidas como “castanha elétrica” aqui no Acre. Disse que já ouviu historias como de que este tipo “mini” só dá a cada sete anos... Mas ainda não conseguiu comprovar de fato qual a historia desta variedade. Ate hoje só encontrou uma arvore que as produz assim deste tamanho.

Mais recentemente, estava num encontro onde apareceu outra cobra. Resolveu fazer um teste: rodeou a cobra com “castanhas elétricas”. Conta que ela ficou parada com a cabeça erguida, até que veio algum entendido e recolheu a cobra.

Zé Kleuber conta ainda que há varias maneiras de usar a semente, inclusive utilizando o óleo que tem dentro, diretamente sobre áreas doloridas do corpo. Mas deve-se tomar cuidado pois o liquido da semente e do fruto é venenoso. Outra coisa que ele descobriu com o tempo, é que para usar a semente em contato com o corpo, é melhor que seja em áreas onde não há ossos muito expostos, pois isso pode provocar dor. Então ele entendeu por que a índia lhe disse para usá-la abaixo do umbigo. Hoje, Zé Kleuber, assim como muitos outros que conhecem o poder desta semente, carregam sempre uma no bolso.
http://www.flickr.com/photos/thomasbisinger/301090549/

9 comentários:

Natalia Jung disse...

Poxa, preciso mostrar isto pro Kleuber, ele ficará emocionadíssimo!!! Até hj quando nos encontramos pelas ruas de Rio Branco ele me pergunta: E seu amigo, o compridão fotógrafo? rs

Flávio Damasceno disse...

Ola a todos.
Eu achei o Ze Kleuber aqui em BH, MG. Estava num barzinho com uns amigos e eis que de repente surge um artista do nada oferencendo seu trabalho.
Uma pessoa ótima. Batemos um papo e adquiri seu mais novo cd. "Um canto do Acre", que por sinal é excelente.

Parabéns Kleuber, seu trabalho é mto bom.
Que venham mais e mais.
Grande abraço.

Gabriel

PSICANÁLISE SELVAGEM disse...

Eu achei o Zé Kleuber aqui em Salvador, BA, em 2019. Estava vendendo seu cd "Linda Amazônia" e me ofereceu enquanto eu comia um doce dentro de uma padaria. Batemos um papo sobre a amazônia e ele me contou um pouco da sua história.

Ele é um homem que conhece o que há de pior e melhor no ser humano.

Abraços, Marcelo

Bruno disse...

Eu cruzei com Zé Kleuber em Recife, 2018. Foi uma maravilha de conversa, é um ancião cheio de sabedoria. Que maravilha!!!

thomasbisinger disse...

Uau....apos muito tempo vim aqui rever esse texto e vi os comentarios de voces que encontraram o Zé Kleuber por esse BRasilzao. fiquei muito feliz!!!grato pelos comentarios.
por onde andara Zé Kleuber?!

Prado disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Prado disse...

Pessoa sensacional, de um coração muito bom. Eu e minha esposa encontramos ele hoje 27/05/22, em um bar que se chama Alibabar aqui na Zona Sul de Belo Horizonte, Bairro Santo Agostinho. Compramos um CD com ele que se chama Linda Amazônia, achamos ele um pouco debilitado, disse que está morando na Cidade de Igarapé, região Metropolitana de Belo Horizonte. Tem o costume de ir vender seu CD na Serra do Cipó aos Sábados. Pessoa do bem, de muita humildade e belas histórias.

Bruno disse...

Eu encontrei esse peregrino em 2018 em Recife, me contou essa história e me levou num festival de marchinhas nunca esquecerei!

Allan Falcão disse...

Boa tarde! Me chamo Allan Falcão. Zé Kleuber é meu tio e acabou de me pedir para enviar para ele, esta reportagem. Enviei no link e tb gerei pdf. Ele disse: "Que maravilha! tem até comentários. Até me emocionei" Ele é um ótimo compositor e está atualmente tentando mostrar suas músicas para que algum artista possa gravar. Onde ele passa, faz várias amizades. É um comunicador nato e com muita humildade, consegue conquistar muitos fãs. Ele compõe as músicas, em sua maioria, sem nem anotar. Tudo na memória. Eu moro em Recife PE e ele está em BH. Precisa vender sua arte para garantir seu sustento, mas é muito difícil. Quem quiser conversar com ele ou até ajudar de alguma forma, esse é o contato dele: 31 986851906. Abraços!